Dando início às comemorações do centenário de nascimento de Euzébia Silva de Oliveira, a Dona Zica, viúva de um dos mais importantes ícones da música brasileira, Cartola, o Centro Cultural Cartola (CCC), na Mangueira, na Zona Norte do Rio, abriu neste fim de semana a exposição Dona Zica – Da Mangueira e do Brasil, patrocinada pela Secretaria de Cultura, através do edital de Dinamização em Museus e Centros de Memória, da Superintendência de Museus. A mostra permanece no centro até 29 de abril de 2013, sempre com entrada franca.
Por meio de fotos, vídeos, livros, indumentária, objetos pessoais e documentos, a exposição traça um panorama da vida e obra de Dona Zica, integrante da Velha Guarda da Estação Primeira de Mangueira até sua morte, em 2003. Segundo a neta de Dona Zica e curadora da exposição, Nilcemar Nogueira, iniciar as comemorações do centenário da avó num mês em que se festeja o aniversário de Cartola é mais uma forma de reverenciar o amor que, por décadas, os uniu.
– A mostra apresentará detalhes da trajetória de luta desta importante personagem que se tornou um ícone do universo do samba. A exposição também desvenda boa parte da vida e obra do mestre Cartola e da história da própria Mangueira. Reverenciar Zica da Mangueira é louvar o matriarcado do samba,mulheres guerreiras que geram, alimentam, educam, e perpetuam nossos costumes de geração a geração. Como neta, tenho orgulho de apresentar essa história recheada de luta, alegria, um exemplo de vida e superação – afirmou Nilcemar.
Sobre Dona Zica
Euzébia Silva de Oliveira, a Dona Zica, nasceu num domingo de Carnaval, 6 de fevereiro de 1913, no bairro carioca de Piedade. Aos quatro anos de idade foi morar com a família no Buraco Quente, no Morro da Mangueira. Lá conheceu e conviveu com Cartola, para quem, mais do que esposa, foi musa inspiradora e companheira dedicada. Sua personalidade forte impulsionou a vida e a carreira do grande mestre. Nascia ali, também, um amor incondicional pela Mangueira, pelas culturas carioca e brasileira.
Sua relação com a comunidade mangueirense a converteria na grande dama da verde-e-rosa. O jeito delicado e vaidoso, o apego à vida, a dignidade e a altivez a transformaram em umas das mais fortes lideranças femininas do samba carioca.
Dona Zica também conquistaria a fama de uma das mais importantes culinaristas do Rio. Quem não ouviu falar de seu famoso feijão? Afamada por seu talento de cozinheira inspirada e por toda sua dedicação ao samba, conquistou seu espaço social e político e contribuiu para a manutenção de nossos valores culturais.
Uma de maiores contribuições à cultura brasileira foi abrir no centro do Rio com o marido ilustre um restaurante que entraria para a história da MPB: o Zicartola, estabelecimento que funcionava no segundo nível de um sobrado de três andares localizado na Rua da Carioca, número 53. Neste espaço, criado inicialmente para servir refeições, passaram a se reunir, ao fim das tardes, sambistas que lá encerravam o dia de trabalho ao som de batucadas.
Com o crescimento das escolas de samba na década de 1960, os antigos compositores perderam espaço e buscaram refúgio no Zicartola – entre eles, Zé Keti. Elton Medeiros,Nelson Cavaquinho, Ismael Silva, Aracy de Almeida e a eles juntaram-se grandes nomes da Bossa Nova, como Carlos Lyra e Nara Leão, que também se apresentaram por lá. O local também foi palco do lançamento de Paulinho da Viola.
Fonte: Jornal do Brasil