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Em que condições as mulheres vivem nas mais diferentes regiões do planeta, com seus múltiplos feminismos e diante de infinitos tipos de violência? Essa questão foi o ponto de partida para a artista Káliman Chiappini percorrer quatro continentes em busca de respostas e (re)descobertas. O resultado da rica jornada de quatro anos pode ser visto de perto a partir de amanhã (15), na exposição “Serpente do mundo: memória, destino, conhecimento e liberdade”, no térreo do Centro Cultural Correios do Rio, com entrada gratuita.

Com 30 imagens que levam o público à reflexão, o trabalho revisita o mito de Eva, primeira mulher a ousar morder o fruto do conhecimento e, a partir daí, ser culpabilizada pela Humanidade. É esse diálogo entre culpa e castigo que costura a narrativa de Chiappini.

“A serpente não é a vilã, mas uma cúmplice que desperta Eva e, por extensão, todas as mulheres para a liberdade. A exposição aborda questões sociais, culturais e históricas, que reverberam na contemporaneidade”, explica a artista: “O conteúdo é um chamado à ação; propõe um feminismo vivido, que requer não apenas reflexão, mas transformação. Cada imagem e cada poema revelam como as mulheres, em diferentes lugares do planeta, resistem, subvertem e renascem”.

Em um cenário imersivo, os visitantes encontrarão uma mostra com oito poemas, 27 fotografias em papel e três impressões em tecido, que culminam em uma instalação da artista com um vestido de noiva comprado em um brechó de Paris. A roupa, segundo Chiappini, foi escolhida por representar sonhos e medos entre submissões e alegrias. Estão na exposição registros feitos em países como Índia, Gana, Costa do Marfim, Tunísia, Qatar, Omã e Nepal.

“A Índia me ensinou a me manter sã em meio ao caos; a África me deu força para encarar as adversidades; o Oriente Médio me fez compreender que existem diferentes formas de se sentir e viver no mundo. Cada lugar que pisei trouxe uma mensagem de resistência”, reflete.

Da maçã proibida nasce um outro fruto

A abertura de “Serpente do mundo” vai marcar, ainda, o lançamento do livro “Grita! Histórias & poemas de impacto”. Com edição da Casa Philos e coedição da Casa da Favela (Agência de Notícias das Favelas), a obra é outro produto das viagens de Chiappini ao redor do mundo:

“O livro clama pela discussão sobre a urgência de garantir liberdade e direitos às mulheres, seja no contexto pós-pandemia, seja no cenário de crises migratórias e conflitos internacionais. No lançamento, a ideia é fazer uma festa para celebrar nossos múltiplos poderes. Por isso, no dia 15 teremos sessão de autógrafos, projeções, roda de conversa, performances de poemas e apresentação de DJ”.

Nas obras, o retrato das origens

Nascida em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, Káliman Chiappini foi adotada ainda na infância e cresceu em várias comunidades de Bangu. Para se sustentar, trabalhou desde cedo em diversas áreas, como limpeza, cozinha e vendas, até que conseguiu se formar pela Escola de Cinema Darcy Ribeiro, onde foi aluna de Ruy Guerra e Walter Salles.

A artista participou do Festival do Rio e do Festival Internacional de Cinema de Berlim, e recentemente obteve chancela da Doc Society para projetos ligados a direitos humanos e mudanças climáticas – desde 2012, a produtora internacional já apoiou a realização de mais de 60 filmes premiados. Atualmente, desenvolve documentários e séries que abordam temas urgentes como a pesca ilegal na Amazônia e a questão global do clima.

Serviço:

Data: de 15 de janeiro a 8 de março
Visitação: de terça a sábado, das 12h às 19h
Local: Centro Cultural Correios (Rua Visconde de Itaboraí, 20, Centro do Rio)
Entrada: gratuita
Classificação: livre