Cinco décadas depois, o sonho do socialismo com liberdade de Salvador Allende visto pelas lentes de um jovem em ebulição. O premiado documentarista Silvio Tendler volta ao início da sua vida adulta com a exposição de fotografias “Imagens do Exílio: Fragmentos de Memória”. Aos vinte anos de idade, sufocado pela ditadura Médici, o então estudante decide desembarcar no Chile em setembro de 1971, poucos dias após a posse de Dom Chico, como Allende era chamado pelo povo, para viver na meca dos revolucionários de esquerda. A sociedade canta e dança o desejo de uma vida melhor para todos.
Com uma Pentax Spotmatic, o jovem capta Allende no palanque e o povo empunhando cartazes; resorts onde trabalhadores tiram férias pela primeira vez, custeadas pelo Estado; iniciativas de combate à pobreza por meio da arte; organizações de trabalhadores nos bairros; Fidel Castro no Chile. Vai estudar cinema na França e volta dias antes do golpe para passar férias. Dessa vez, testemunha a tensão e a melancolia que precederam o golpe: atentados contra torres de transmissão de energia e o comício em comemoração aos três anos de governo da Unidade Popular. Allende morreria dias depois.
A exposição conta com 41 fotografias em preto e branco tiradas por Silvio Tendler entre 1971 e 1973, com legendas que contextualizam o momento em que foram produzidas. Impressas em painéis de tecido wideprint, com uma estética contemporânea, que ao mesmo tempo nos transporta para os anos 70, sintetizam o turbilhão de afetos e dores vividos durante o exílio voluntário. Em um salto no tempo, oito imagens mostram o cineasta, aos 73 anos, em uma emocionante viagem ao Chile com uma caravana de ex-exilados durante eventos que rememoram os 50 anos do golpe que tirou Allende do poder.
No centro da sala, banners em voil colorido com fotografias e frases emblemáticas trazem uma camada lúdica ao espaço. Uma cronologia ilustrada recebe o visitante com dados sobre a vida do cineasta, o contexto político e pessoal que o levaram a sair do Brasil e os momentos mais marcantes dos mil dias do governo da Unidade Popular, da eleição à morte de Allende dentro do La Moneda. Impressas nas paredes, poesias de Thiago de Mello e Ferreira Gullar, que estiveram exilados no Chile, os sapatos que Allende usava em 11 de setembro de 1973 e um poema inédito de Silvio Tendler.
O visitante será transportado ao calor do Chile de Allende por meio da camada sonora da exposição, narrada pelos atores Beth Goulart, Eduardo Tornaghi e Júlia Lemmertz. Montados em ordem cronológica e enriquecidos com efeitos sonoros e texturas musicais, trechos da memória do cineasta e de outros exilados, de discursos e entrevistas de Salvador Allende, de documentos da Casa Branca, de testemunhos de trabalhadores chilenos, de músicas, de poesias e de reportagens. O mergulho nos sons do exílio será completado por uma canção original composta pela musicista chilena Cecilia Concha Laborde, que também narra alguns trechos de obras.
Serviço:
06/12/2024 a 28/02/2025 – abertura 07/12
Sesc Copacabana
Galeria – 1 andar
Endereço: Rua Domingos Ferreira, 160, Copacabana, Rio de Janeiro
Funcionamento: Terça-feira a domingo, das 10h às 19h
Entrada gratuita
Classificação indicativa: 12 anos