Desde que foi criado em 5 de junho 1974, o Dia Mundial do Meio Ambiente se tornou a principal plataforma global para sensibilizar pessoas, organizações e países sobre a proteção da natureza, chamando atenção para este tema tão importante. Mas a preocupação com o meio ambiente vai além de assuntos pertinentes à preservação dos recursos naturais. É uma questão social e de saúde pública. O Rio de Janeiro está longe de ter boas políticas nesse sentido. Nas favelas, principalmente, é visível e de conhecimento público a falta de saneamento básico e de conscientização em relação ao destino correto do lixo produzido nesses locais.
Todos os dias, no Rio de Janeiro, 6.785 toneladas de detritos têm destinos inadequados e acabam em lixões e aterros controlados. Outras 204 não são coletadas e vão parar em encostas, rios, terrenos baldios e beiras de estrada. Para piorar, pela primeira vez nesta década as cidades fluminenses reduziram a quantidade de lixo que recebe tratamento adequado em aterros sanitários. A situação do descarte de restos e detritos de atividades de toda a natureza — de domésticas a industriais — piorou e está longe do ideal. Uma má notícia para o meio ambiente e para a saúde pública do estado.
Na Rocinha, Zona Sul do Rio, quando as chuvas chegam os moradores praticamente não podem se locomover pelos becos, ruas e vielas. A quantidade de água, lixo e esgoto é assustadora. Não é à toa que, em 2014, quando o Estado insinuou que iria construir um teleférico no local, os moradores se posicionaram contra e foram às ruas protestar com o slogan “A Rocinha não precisa de teleférico e sim de saneamento básico”. As péssimas condições de direcionamento de esgoto é um dos pontos marcantes e que mais incomodam visitantes e moradores da Rocinha.
Maria das Graças Terto, moradora da Rocinha há 30 anos, acredita que a responsabilidade maior pelo saneamento básico e pelo destino correto dos detritos é dos governantes, que deviam criar políticas públicas e fazer reformas de qualidade. “Eles precisam administrar melhor nosso dinheiro e investir no que realmente importa. O lixo na rua e os esgotos a céu aberto são coisas inaceitáveis”, diz.
Entretanto, Maria acha também que os moradores têm papel fundamental nesse cenário. “É importante que aqueles que moram aqui façam sua parte. Não dá para cobrar do governo e jogar lixo na vala, não é?”, questiona.
Ao mesmo tempo que têm moradores que não colaboram com o bem-estar do todo, existem diversas iniciativas criadas por favelados. O presidente do Instituto Lixo Zero e representante do Brasil no Zero Waste International Alliance (ZWIA), Rodrigo Sabatini, disse, em entrevista ao Jornal do Brasil, que as melhores práticas, quando o assunto é lixo, vêm das favelas. É uma especificidade das iniciativas no Rio de Janeiro. As favelas “são exemplos de como estas comunidades assumiram o seu poder em seu território, em uma transformação virtuosa”, afirmou, no 1º Congresso Internacional Cidades Lixo Zero, que aconteceu em junho, em comemoração da Semana do Meio Ambiente.
Matéria publicada na edição de julho de 2018 no jornal A Voz da Favela.