A semana passada foi marcada por vários festivais de rua espalhados pela cidade. Vou destacar três eventos que sacudiram o final de semana e a pergunta fundamental: quando teremos algo deste porte para as periferias?

A produtora Dell’arte tornou realidade o “Meu Primeiro Festival” que, como o nome sugere, é um evento voltado para as crianças ainda bem pequenas. O evento rolou no recém reaberto Passeio Público, cujo espaço estava fechado desde uma enchente em setembro. Com uma programação recheada de atrações infantis, como contação de histórias, teatro, circo, dança e música, a produção ocupa o Passeio com a missão de deixar os pequeninos familiarizados com os eventos em espaços públicos. Foi um sábado repleto de muita harmonia, paz e amor – tudo como manda o figurino.

Em sua 54ª edição (Isso mesmo, 54 edições!), o Festival Villa-Lobos também presenteou a cidade com uma programação extensa e com a qualidade que todos os amantes da música conhecem. O festival deste ano homenageou o compositor e multi-instrumentista Egberto Gismonti. Locais como a Sala Cecília Meirelles e o Teatro Municipal foram contemplados com shows e concertos a preços populares. Ou seja, mais um gol de placa da Sarau Agência de Cultura Brasileira.

E pra terminar, não dá para não falar da MIMO – Mostra Internacional de Música em Olinda, festival que completa 13 anos e faz sua segunda edição na Cidade Maravilhosa. Sou muito suspeito para falar do festival, afinal, por quatro anos, fiz parte da equipe de produção e em uma das edições fui assistente de direção. A MIMO, além de nos presentear com uma programação musical de alto nível e padrão internacional, como shows da banda Bixiga 70, a rainha da cúmbia colombiana Toto La Momposina e do furacão Ney Matogrosso, ainda oferece contrapartidas sociais, como workshops e oficinas totalmente gratuitos e um lindo projeto chamado MIMO Para Iniciantes, dedicado a crianças de 5 a 10 anos da rede pública de ensino. Esta iniciativa, que torna possível o primeiro contato com a música de concerto principalmente para as crianças das favelas e periferias, aproxima os alunos deste universo através de espetáculos lúdicos ministrados pelos músicos do festival. Desde a sua criação, o festival tem essa preocupação social em todas as cidades por onde passa. O resultado destes espetáculos para as crianças das escolas públicas é muito emocionante. Projetos financiados via leis de incentivos fiscais deveriam ter mais contrapartidas como essa.

 

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Créditos: Bruna Monteiro / DP / D. A Press

 

Mediante tudo isso, me pergunto: quando vamos realizar um festival internacional de arte e cultura de favela? Porque, se depender de mão de obra qualificada e artistas de alto nível, estamos muito bem aparelhados.  Hoje, em praticamente todas as favelas desse país, existem coletivos, companhias de teatro e dança, artistas plásticos, designers e, claro, muitos músicos e bandas de qualidade elevada. Aqui no Rio, a Favela de Acari tem um projeto muito especial chamado Ópera Popular de Acari, que já formou vários jovens da comunidade – inclusive, o grupo Acariocamerata, que foi eleito pelos críticos um dos dez melhores discos de 2009.

Em Recife (PE), existe A Orquestra Criança Cidadã. A OCC é um projeto social gerido pela Associação Beneficente Criança Cidadã (ABCC). O programa, em funcionamento desde 2006, que visa o resgate social de crianças de baixa renda através da música. A primeira comunidade escolhida foi o Coque, um dos bairros mais violentos e com menor Índice de Desenvolvimento Humano do Recife, e desde 2014, o projeto também está em funcionamento uma sede na cidade de Ipojuca, na região metropolitana. Atualmente, a Orquestra atende gratuitamente a 330 jovens (230 no Coque e 100 no Ipojuca) com idades entre 4 e 21 anos. Os alunos recebem aulas de instrumentos de corda, percussão, teoria e percepção musical, flauta doce e canto coral, além de instrumentos de sopro – flauta transversa, oboé, clarinete, trompa e fagote.

Além desta, há centenas de outras iniciativas semelhantes por todo o país. Potencial e recursos humanos para realizar o primeiro grande festival das artes de favela nós temos… É só botar a mão na massa!

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