Essa semana, a RioTour, órgão da prefeitura que cuida do turismo, definiu que as favelas cariocas devem ser escondidas dos “gringos” em seus mapas oficiais de divulgação. Eu me pergunto: como? O Rio de Janeiro, a Cidade Maravilha da beleza e do caos, é uma grande Favela. Não somos invisíveis. Não aceitamos que ninguém diga que não fazemos parte da cidade.
Quando os turistas chegam ao Rio tanto pelo ar como por terra ou mar, as favelas são logo vistas e chamam a atenção inevitavelmente. Causam reações diversas, do espanto à curiosidade, nos filmes, folhetins e noticiários. Isso é algo que nenhum órgão público pode conseguir evitar.
Durante muitos anos, os atos racistas e o ódio da elite carioca alimentaram um apartheid cruel e infame, imputando formas de estancar os veios que poderiam trazer inúmeras melhorias e transformação local nas favelas através do turismo, principalmente o de base comunitária. Em vez de estimular, eles castram e nos tiram do mapa. Covardes.
Está mais que provado que sempre existiu uma bolha que circunda as favelas e isso nos tiram muitas oportunidades, inclusive de acesso ao conhecimento cultural e crescimento financeiros. Posso falar isso por experiência própria. Durante um grande período, trouxemos muitos turistas aqui para o Complexo do Alemão para conhecer a nossa realidade de perto. Eles traziam renda, dividendos culturais e grandes experiências sociais nas mais diversas escalas. Foram experiências de forte impacto na vida dos que aqui estiveram.
Como pode agora, depois de tudo que as favelas experimentaram e com as milhares de pessoas que aqui vieram, nos roubarem isso? Apaga as favelas dos mapas oficiais de turismo da cidade é um crime de racismo. Se não pode haver turistas nas favelas, também não pode haver em nenhum outro local da cidade, porque a favela é a cidade. Cada canto desse cidade é parte do todo, e a favela, queiram ou não, está inserida nela – doa a quem doer.
A administração atual nos deve uma explicação e um pedido de desculpas urgente. Se há uma falha na segurança e as favelas não podem mais receber turistas, a culpa é da Secretaria de Segurança Pública do Estado e da falência total do modelo implantado que foi feito de forma eleitoreira e irresponsável, causando esse desastre que aqui está. A culpa não é nossa.
Foram feitos investimentos, preparativos e promessas de empreendedorismo com atores locais. Muitas pessoas investiram suas vidas nesse processo do turismo de base local. Agora, eles nos dão o tiro de misericórdia.
Pedimos a retratação dos órgãos competentes e que revejam esse ato racista contra as favelas.
Somos cidade. Favela é cidade.