Há quem ainda não tenha percebido, mas a favela não é homogênea. Existem semelhanças, sim, porém, dizer que todas são iguais é absurdo. Lugares com alta concentração de pessoas por metro quadrado jamais seriam homogêneos. São pessoas, um universo em cada ser. Diversos gostos musicais, por exemplo. Uma ginga em cada andar.
Esse ano, houve um período no qual sempre que eu estava em Acari ouvia de algum alto falante potente a música “Você Foi Diferente”, do representante do funk de São Paulo MC G15. Sem dúvidas, é um dos hits do ano. O efeito no vocal é bem semelhante a de um outro hit de SP que já alcançou o patamar de clássico: “Baile de Favela”, do MC João.
A Nova Holanda, uma das favelas do Complexo da Maré, é o baile de favela mais bombado da atualidade e, desde o ano passado, imprimiu seu próprio hit: “Esse é o baile do meu pai”, que acelera o BPM do tamborzão. Não há quem não ouça e fique com uma só coisa na cabeça: “Nova Holanda, Nova Holanda, Nova Holanda, Nova Holanda”. (+18)
Na mesma Nova Holanda, dessa vez, na praça da pista de skate, curti uma edição do Rock em Movimento onde também pude mostrar um pouco do rap junto com a banda Bala N’Agulha. Também pelo Rock em Movimento pude apresentar meus raps e dividir espaço com bandas de rock na Vila do Pinheiro. Aliás, a Tabacaria Dreadlocks é um excelente point que mostra a diversidade cultural da favela.
A pluralidade de ritmos que está presente nas favelas e periferias é enorme. Há muita coisa boa sendo desenvolvida. Muitos desses artistas são grandes empreendedores, porque, além de estarem ali no palco, pensam todo o processo de produção até a distribuição musical, passando pela elaboração dos seus produtos (conhecido como merch) e toda a estrutura de selo/gravadora independente.
Tá aí um dos desafios para 2017: ver esses artistas alcançando mais notoriedade, conseguindo atrair investimento para suas produções e sem perder a essência original do trabalho.