O pensar a favela a partir da etimologia, ou seja do significado da palavra, tem como premissa referências imbricadas que se traduzem em história, território, afeto, política, religião, cultura e biologia.

Para uma síntese, podemos utilizar uma citação extraída do próprio Wikipédia: 

“A origem do termo em português brasileiro favela surge principalmente no episódio histórico conhecido por Guerra de Canudos, no século XIX. A cidadela de Canudos foi construída junto a alguns morros, entre eles o Morro da Favela, assim batizado em virtude da planta Cnidoscolus quercifolius (popularmente chamada de favela por produzir uma semente leguminosa em forma de favo) que encobria a região. Alguns dos soldados que foram para a guerra, ao regressarem ao Rio de Janeiro em 1897, deixaram de receber o soldo, instalando-se em construções provisórias erigidas sobre o Morro da Providência. O local passou então a ser designado popularmente Morro da Favela, em referência à “favela” original. O nome favela ficou conhecido e na década de 1920, as habitações improvisadas, sem infraestrutura, que ocupavam os morros passaram a ser chamadas de favelas”. (Wikipédia, 23/10/23). 

Assim, “Favela” é a planta Cnidoscolus Quercifolius (popularmente chamada de favela por produzir uma semente leguminosa em forma de favo); “Favela” é Guerra de Canudos; “Favela” é habitações improvisadas; e “Favela” é morro-território. As favelas como as conhecemos hoje não se chamariam favelas se não fosse aquele território específico com as plantas chamadas Favelas, ocupado pelo conflito em arraial de Canudos, no interior da Bahia. Também a planta Favela não teria seu nome tão popularizado, não fosse as favelas de habitações-sociais do vasto território brasileiro. Ainda que não de conhecimento da maioria quanto ao significado etimológico da palavra favela. 

A Guerra de Canudos, protagonizada pouco depois da Proclamação da República, na última década do século 19, entre campesinos liderados por Antônio Conselheiro, sertanejo peregrino oriundo da cidade de Sobral/CE que professava contra a fome, a miséria e a concentração de terras, e (versus) os soldados do exército que protegiam os interesses dos chefes provincianos, os chamados Coronéis, grandes proprietários de terras, na maioria ociosas e improdutivas. Foi uma verdadeira luta dos contrários em nível de visão de sociedade, que na prática ocorria em relação ao uso das terras, do território, uma classe social defendendo a concentração de terras e a proliferação da pobreza, uma outra defendendo a coletivização das terras almejando a distribuição da riqueza. 

Favela é muita coisa. Mas quando pensada nas periferias urbanas a favela tem peculiaridades que a difere de qualquer outra realidade que exista dentre as territorialidades. O que remete ao simbolismo das terminologias que se possa usar para representar a favela, ou seja, favela é o termo mais legítimo para se referir à favela. A favela é aquele conglomerado de moradias construídas ou ocupadas dentro de um território originado de demandas e/ou conflitos sociais, gerando projeção para uma outra perspectiva de convívio social. E que na esfera jurídica de administração do espaço físico, ela literalmente gera função social num território antes ocioso, ainda que comprimido. Favela é literalmente a dialética intra-social em um delimitado perímetro. 

Portanto onde “tudo se relaciona” e “tudo se transforma” a partir do tecido social e do território, que são vários e diversos. E nos quais o improviso é a consequência de necessidades materiais imediatas do indivíduo, como meio de sobrevivência, efetivado no/pelo coletivo social. Isso faz com que a favela tenha a especificidade de que sua nuance histórico-social seja espelhada na relação com as políticas públicas e com a realidade político-econômica. Sendo que no atual contexto histórico, se verificam novas pautas que demandam sobretudo a inclusão da favela nos adventos das tecnologias sociais e ambientais, e vice-versa, do século 21, ainda no ano de 2023. 

E, uma das iniciativas partiu do Encontro Nacional de Produção, Análise e Disseminação de Informações sobre as Favelas e Comunidades do Brasil, promovido pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE, em Brasília, entre os dias 25 e 29 de setembro, que teve como discussão principal a proposta do IBGE para alteração da nomenclatura de “aglomerados subnormais” para “favelas e assentamentos populares”, nas pesquisas sobre favelas. O evento, com a participação de especialistas e atores sociais da área, foi protagonizado por um qualificado debate a partir de conceitos que transitam entre as carências e também da potência da favela. Além disso, expressou as demandas contemporâneas das favelas, ressaltou o simbolismo do IBGE no imaginário popular e reivindicou a presença mais efetiva da instituição, com a cara da favela. Acompanhemos! 

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