Uma das coisas mais emocionantes dos últimos tempos foi ver o desabafo do novo jogador do Flamengo ao receber o prêmio de melhor jogador da Taça das Favelas, pelo time da comunidade de Gogó da Ema. Importante ver um jovem da favela dizer na maior rede de TV que a favela não é só o que a imprensa e a mídia em geral noticia todo dia. A favela não é só crime e sofrimento A favela é vida, força, garra, resistência e muita potência. Apesar de ser um cara nascido e criado no asfalto, sempre tive muito respeito e admiração pelas favelas e quem mora nelas apesar do lado negativo.
Lembro a primeira vez que fui numa favela. Foi pra soltar pipa com um amigo que sempre soltava pipa comigo no Aterro do Flamengo. Ele sempre falava de como era mais divertido soltar pipa no morro e um dia, tomei coragem e decidi ir. Tinha uns 11 anos e a primeira coisa que me impactou foi a diferença social de onde eu cresci para o que estava vendo naquele momento. Sim me surpreendeu ver casas de madeira e de reboco. Fiquei passado com o esgoto a céu aberto e a sujeira em determinados locais. Nunca tinha visto tanta criança descalça e suja brincando sozinha. E claro tinha também o tráfico. O ano era 1979 e eram totalmente diferentes dos tempos atuais. Apesar de vivermos numa ditadura militar, o Estado era assassino sim, mas não genocida.
Mas apesar de tantas coisas negativas, as pessoas que viviam ali não aparentavam ser infelizes, muito pelo ao contrário. Vi muita dignidade e sabedoria naquelas pessoas que viviam lá. Uma força de vida que ninguém é capaz de tirar dessas pessoas. Talvez essa força e alegria de viver sejam os responsáveis pela estratégia do Estado em além de nos matar, tirar nosso ímpeto de viver.
Favela é resistência sim!
A favela resiste não só com a sua força criativa cultural artística, mas com o advento de vários coletivos que utilizam como ferramenta possante a comunicação comunitária. Com as batalhas de poesia, com os Slams e por aí vai. A favela pode e deve ser a ponta de lança da resistência a esses tempos tenebrosos que vivemos. Viva a Favela!