Após uma semana do encerramento do Rock in Rio 2019, a #rockinrio2019 já foi utilizada em mais de 188 mil publicações.
O festival, que completou 34 anos, tem repercussão mundial como o maior festival de música do planeta. Além de artistas internacionais como Kell Smith, Bon Jovi e Imagine Dragons, clássicos nacionais como Capital Inicial, Lulu Santos e Paralamas do Sucesso também marcaram presença. E, se a cidade esteve sob os holofotes do mundo inteiro por quase duas semanas com grandes nomes da música, esta edição mostrou que o Rio não está apenas no nome do festival.
O Palco Favela surge como novidade num evento de tradição, revelando ao mundo a parte mais abafada do Rio de Janeiro.
Primeiramente o palco em si expõe aos que passeiam pela Cidade do Rock uma representação do que seria uma favela carioca, em sua estrutura estética-geográfica. Segundo o Censo de 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Rio de Janeiro é a cidade com a maior população em favelas do país. Ou seja, essa é a realidade de boa parte da população carioca. E, embora o Brasil seja rico demais em matéria de folclore, a favela não faz parte disso.
Favela existe como resultante de desigualdade social. Tem muita gente vivendo com muito pouco porque tem pouca gente vivendo com muito; e é por isso que a conta não fecha. Nas favelas, a realidade não é fácil: comumente pessoas vivem em casas com riscos de desabamento, sem saneamento básico, em ruas que não tem coleta de lixo nem limpeza, localizadas em bairros sem qualquer investimento da prefeitura quanto à lazer ou qualquer programação voltada ao cinema, teatro, música, literatura.
E por falar em literatura, sobre ela, o crítico literário Antonio Candido pontuava que tem uma bela função: a humanizadora; no entanto, que também pode ser desumanizadora à medida que representa de maneira pitoresca ou caricata grupos oprimidos na vida cotidiana.
A função humanizadora se aplica às artes em geral – o que inclui, também, a música, a dança, o teatro, o cinema –, e é necessário que se tenha a responsabilidade de representar a vida de forma lúdica, mas sem se esquecer do compromisso com os oprimidos na vida real. A favela é o território, o cotidiano, a construção das identidades.
Esse palco recebeu desde os sambistas da Festa da Raça, apresentação da Orquestra da Maré, batalha do Slam, funk com Cidinho e Doca, até o rap de Delacruz. O que tinham em comum?
O lugar de fala, a responsabilidade no que se refere aos grupos mais silenciados da sociedade, consciência quanto à representatividade, a crítica social, o pedido por paz nas favelas, o clamor por menos desigualdade, o grito contra o extermínio da juventude negra e pobre… cada um no seu ritmo, revelando, ao mundo inteiro, as múltiplas potencialidades artísticas das favelas do Rio.
A favela existe. E resiste. Resiste com produção cultural. E produz artes porque é pura potência, é diversa, é plural. Não é o que o asfalto define. É o que e como se (re)inventa.