É domingo de carnaval, e nesta data é preciso lembrar da associação entre favela, samba e carnaval. Se faz necessário porque muita gente não sabe ou faz questão de esquecer justamente pra jogar a favela no limbo, naquele lugar onde “não tem cultura” como muitos gostam de dizer por aí.
Embora ainda haja uma aproximação maior do morro com os blocos de rua, é necessário ressaltar que durante muito tempo esse tipo de festa popular sofria discriminação e que o samba permaneceu por anos sendo mal visto – tal como ocorre com o funk.
No início do século XX, existia o carnaval oficial – aceito e difundido pelas classes alta e média – e o não-oficial – este constituído por negros, pobres e favelados. Surgia assim o samba marginalizado e reprimido, bastante influenciado pelos terreiros de santo. O samba então, anos depois, passou a ser elitizado nas escolas de samba que desfilam na Marquês de Sapucaí, principalmente as do grupo especial. Para prestigiar um desfile atualmente, é preciso pagar mais de R$400, o que deixa claro para quem é esse espetáculo atualmente e que nem de longe lembra a época quando bastava descer o morro para acompanhar. Os mais antigos ainda lembram desse período com um tom nostálgico.
Hoje, existem diferentes atores interessados nessa indústria cultural que é o carnaval: empresários, políticos, traficantes, contraventores… Mesmo assim, ainda podemos destacar um lado positivo: as centenas de oportunidades de trabalho geradas nos barracões das escolas. Ou seja, o carnaval ainda é construído pela favela. Além de muitas escolas também terem como tema a favela ou fazerem seus ensaios dentro do morro, o coração das escolas, a bateria, têm muitos integrantes que pertencem a favela que determinada escola representa. É lastimável que o resultado produzido pela favela não possa ser assistido de perto na Sapucaí.
O Carnaval significa na sua essência, em nosso país, desde a época colonial, a utopia, a alegria, a brincadeira, que hoje parece esquecida quando se trata da burocracia que envolvem o carnaval das escolas de samba, por exemplo. Entretanto, os blocos de rua a cada ano ganham mais força. O ideal seria que toda a população, principalmente o povo favelado, também desfrutasse plenamente daquilo que há anos atrás surgiu na favela. Como o ideal não existe, nos resta lembrar, parafraseando a música eternizada na voz da cantora Alcione: “Não deixa o samba morrer, não deixa o samba acabar / O morro foi feito de samba/ De samba pra gente sambar!”.