Proteção, cultura, coletividade e ancestralidade ligam esses territórios de tempos não tão distintos
Aprendemos desde cedo, nas aulas de história, sobre a colonização e a escravização dos negros africanos e de seus descendentes. Para fugir da casa-grande, nossos ancestrais refugiavam-se em quilombos, juntamente com alguns escravizados alforriados. Esses espaços se tornaram importantíssimos não somente para garantir a segurança de negros, mas também por ser um ambiente rico para produção e resistência da cultura negra, assim como nas favelas.
A favela é território que pulsa novidades, que cria sua própria cultura e que se mantém como um conjunto de coletividades. Nos antigos quilombos, vivia-se em comunidade, onde cada membro tinha sua função para servir todo o grupo, visando o bem-estar geral. Na favela, o espírito de coletividade ainda é presente, nos permitindo organizar ações para o bem comum, já que o governo até hoje não o faz, assim como não criou ações de inclusão do negro na sociedade após o fim da escravidão.
Cobrir um buraco, pavimentar uma calçada e até mesmo organizar festas na comunidade são algumas das ações coletivas a favor do bem comum que encontramos hoje nas favelas e que são semelhantes às que existiam nos quilombos.
A culinária com toques próprios da favela, assim como a moda e a música que nascem entre becos e vielas, têm algumas de suas origens nos quilombolas.
Para nós, favelados, que somos descendentes de africanos, a coletividade e o processo de construção da identidade são complementares desde o período colonial. A memória ancestral e corporal resiste em nós e é reproduzida nos quilombos contemporâneos que são as nossas favelas. Apesar de ainda existirem capitães do mato que nos matam diariamente a mando da casa-grande, nossa ancestralidade permanece viva e potente!
*Matéria originalmente publicada no jornal A Voz da Favela de novembro.
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