Firio
Foto: Anne Sofie Schrøder

Desde 2011 mais de 11 milhões de sírios foram forçados a fugir do país. A jornalista dinamarquesa Anne Sofie Schrøder conversou com um deles, Firas Alkeisi, de 28 anos, atualmente refugiado na Dinamarca.

“Foi como chegar ao paraíso. Após anos tentando fugir do inferno vivo, eu poderia finalmente me sentar e beber uma xícara de café. Nunca pensei que fosse encontrar tranquilidade e paz novamente”, diz Firas.

Dois meses atrás o sírio cruzou a fronteira da Alemanha com a Dinamarca junto com com sua namorada grávida – e finalmente bebeu um cafezinho. Há quatro anos ele havia deixado sua cidade natal, Hama, embarcando em uma jornada longa e perigosa.

O inferno na Síria

Firas Alkisi estudava na Universidade de Hama quando o exército de Bashar al-Assad atacou a cidade. Preso durante dois meses por participar de manifestações pela liberdade no país, fugiu para Beirute, no Líbano, quando finalmente voltou às ruas.

“Os sírios não são bem-vindos em países árabes. Por causa do conflito político e também porque somos diferente  culturalmente”, declara Alkeisi, que acabou se mudando para a Turquia. E de lá para a Grécia, onde conheceu sua namorada Najwa, também síria.

“A situação grega está impossível. Muitos refugiados, imigrantes e aproveitadores”, lamenta o rapaz, que, como muitos outros, perdeu dinheiro confiando em  um atravessador que o encheu de esperanças.

País mais feliz do mundo

Ainda na Grécia, Firas recorreu à internet na busca de um lugar seguro para viver com a companheira.

“Encontrei um monte de artigos sobre o ‘país mais feliz do mundo’, a Dinamarca.”

Sorrindo, ele explica que com ajuda de amigos e parentes foi da Grécia para a Itália, de lá para a Alemanha e caminhou o último trecho da fronteira com a Dinamarca. Após dias em um campo de refugiados, ele e a namorada chegaram à ilha Bornholm.

Firas era muçulmano, mas agora é ateu. Depois que o Estado Islâmico tomou o controle em várias regiões da Síria, ele diz que perdeu sua fé na religião. Alkeisi compreende que o fluxo maciço de refugiados e imigrantes na Europa assuste alguns moradores locais:

“Os governos europeus precisam ser críticos nesta situação. Nem todo mundo que vem para a Europa está fugindo de conflitos. Alguns só querem dinheiro e muitos têm culturas completamente diferentes, de difícil integração.”

Agora ele sonha com um asilo na Dinamarca, seu paraíso de tranquilidade e paz. O dinheiro não importa.

“Só quero trabalhar com qualquer coisa. Quero ser capaz de me sustentar o mais rapidamente possível”, ele destaca. E quer também dizer para o mundo que muitos sírios vêm em paz, buscando apenas uma vida sossegada.

“Quando você é um refugiado não tem casa, não tem país. Durante vários anos não tive um chão”, Firas desabafa. Pelo menos isso ele espera ter a partir de agora.

O Conselho de Ministros europeu aprovou recentemente ajuda a 40 mil pessoas “em clara necessidade de proteção internacional” que entraram na Europa via Grécia e Itália. A Dinamarca, cujo governo publicou anúncios em jornais libaneses desencorajando possíveis imigrantes, está na linha de frente da pior crise de refugiados na Europa em décadas – 3200 pessoas entraram no país desde o último domingo, a maioria buscando chegar à Suécia.