Flexibilização reduz desemprego na favela

Favela do Jacarezinho, localizada na zona norte carioca e uma das maiores do Rio de Janeiro - Foto: Reprodução

Mesmo que a rotina profissional e o salário não sejam os mesmos de antes da pandemia, novas oportunidades de emprego estão surgindo, aponta o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) no último levantamento PNAD Covid-19. A taxa de desemprego no país diminuiu na terceira semana de agosto, entre os dias 16 e 22 em comparação com a semana anterior, de 12,8 milhões de desempregados para 12,6 milhões. Ou seja, 200 mil pessoas iniciaram uma nova jornada de trabalho nesse período.

Como aconteceu com Letícia de Souza, de 43 anos. A recepcionista conta que recebeu, nas primeiras semanas de maio, o aviso de demissão do restaurante em que trabalhava havia dois anos. Apesar disso, com três filhos e uma neta, morando numa casa de três cômodos na favela do Mandela, na zona norte do Rio de Janeiro, Letícia permaneceu pouco tempo parada.

“Eu fiquei desesperada quando meu chefe disse que não poderia mais continuar trabalhando. Meu filho mais velho perdeu o trabalho duas semanas antes de mim, meus outros filhos ainda nem terminaram os estudos e minha neta não tem nem um ano. Mas graças a Deus, eu consegui um novo trabalho. Comecei semana passada numa loja do shopping e estou muito aliviada por terem aberto essa vaga de emprego”, contou.

Os dados da PNAD Covid-19 mostram mudança ainda pequena mas positiva, como destaca a coordenadora da pesquisa, Maria Lúcia Vieira: “Há uma estabilidade geral nos indicadores de mercado de trabalho, mas em termos de tendência, foi observada uma variação positiva na força de trabalho”. 

O IBGE aponta que o Rio de Janeiro foi o quarto estado com maior alta de desemprego durante a pandemia e, segundo o LabJaca, um laboratório de dados e narrativas na favela do Jacarezinho, dentro das comunidades a situação econômica ficou ainda pior, devido à alta concentração de trabalhadores informais.

O coordenador do LabJaca, Vinicius Morais, ressalta que “com ou sem crise, é muito mais difícil para alguém que mora em favela conseguir um emprego formal, mais ainda se for negro ou negra. Numa situação de isolamento social, muitas pessoas ficaram sem exercer a atividade com a qual mantinham seu sustento. Seja os que trabalhavam na própria favela, como os barraqueiros dos bailes, ou os que trabalhavam fora, como vendedores ambulantes em transportes públicos”.

Apesar dos meses em queda na economia local, Vinicius Morais destaca que a expectativa é positiva. ”Com a pandemia, as pessoas se preocuparam em gastar mais dentro da própria favela, por isso acredito que o setor de comércio e serviços tem total capacidade de reerguer a economia local”, complementa. 

Esta matéria foi produzida com apoio do Fundo de Auxílio Emergencial ao Jornalismo do Google News Initiative.