FLUPP leva literatura para a CDD a partir de hoje

De 8 a 13 de novembro, a 5ª edição da Festa Literária das Periferias (FLUPP) apresenta uma extensa programação gratuita e mais de 100 nomes da literatura mundial

Créditos: Divulgação

Mais de 100 autores, de 20 nacionalidades estão a partir de hoje na Cidade de Deus. A favela é o palco da 5ª edição da FLUPP – Festa Literária das Periferias, que acontece de hoje (08) até 13 de novembro e conta com mais de 100 horas de programação cultural gratuita.

Idealizada pelos escritores Ecio Salles e Julio Ludemir, a FLUPP realiza, durante seis dias, debates entre autores nacionais e internacionais, shows musicais, espetáculos teatrais, realidade virtual, gincana literária e competições de poesia falada. “Chegamos à Cidade de Deus com o desejo de fazer as misturas mais heterodoxas no bolo com que estamos celebrando os 50 anos da mais emblemática das comunidades populares do Rio de Janeiro, a começar pelo nome”, comenta Ludemir.

O autor homenageado da FLUPP desse ano é Caio Fernando Abreu, escritor gaúcho morto há exatos 20 anos, vítima de HIV. Para os idealizadores do evento, homenagear Caio Fernando Abreu na Cidade de Deus é uma forma de mostrar que os elementos que compõem a periferia vão muito além do território. “Não se pode falar de periferia sem falar em questões raciais, de gênero e políticas”, afirma Ecio Salles. Não à toa, a quinta edição do evento, que já aconteceu nas favelas de Vigário Geral, Mangueira, Morro dos Prazeres e Chapéu Mangueira, será uma plataforma contra o racismo, o machismo e a homofobia, em particular contra a morte dos jovens negros.

 

Evento conta com extensa programação cultural na Cidade de Deus (Créditos: Divulgação)
Evento conta com extensa programação cultural na Cidade de Deus (Créditos: Divulgação)

 

Entre os destaque da FLUPP 2016 estão as mesas de discussão, que trazem autores, poetas e músicos para discutir temas diversos relacionados às minorias periféricas, como racismo, transfobia e feminismo. A mesa “Quilombos de papel”, com os escritores Patrick Chamoiseau (França) e Conceição Evaristo (Brasil), discute a situação do negro nas sociedades pós-coloniais. Nadifa Mohamed (Somália) e Ana Maria Gonçalves (Brasil), que vão estar na mesa “Quando me tornei negra”, falam da complexa construção da identidade da mulher negra em um mundo machista e racista.

O evento também vai dar voz às questões de gênero nas rodas de conversa da FLUPP Trans. A mesa “Dando uma pinta na produção”, na qual Marcelo Caetano, Amara Moira e MC Linn da Quebrada discutem os processos criativos na literatura, nas artes e na música do ponto de vista trans, é uma delas.  “Vamos imergir na forma como pessoas trans pensam seus processos criativos, considerando que ainda vivemos um país onde a população LGBT morre muito todos os dias. Não estamparemos lésbicas negras sendo assassinadas pelo ódio. Na FLUPP, elas falarão de amor”, declara a cineasta jovem, negra, moradora da Baixada Fluminense e curadora da FLUPP Trans Yasmin Thayná.

 

Literatura, tecnologia e competição de poesia

Uma das atrações mais aguardadas deste ano é o coletivo Be another lab, pela primeira vez no Brasil. O público da FLUPP vai poder vivenciar diversas histórias de moradores da favela com óculos de realidade virtual, em um sistema que combina técnicas de neurociência com teatro imersivo para criar uma ilusão cerebral que faz a pessoa ver-se e sentir-se no corpo de outra pessoa. “Colocar-se no lugar do outro é o melhor lugar não apenas para entender o drama alheio, mas para despertar o desejo de resolvê-lo”, afirma Philippe Bertrand, um dos criadores do projeto. As narrativas gravadas e apresentadas pelo coletivo envolverão familiares de jovens negros e pobres mortos pela polícia nos últimos 25 anos.

O festival realiza ainda três competições diferentes de poesia falada: internacional, nacional e, pela primeira vez, intercolegial. O III Rio Poetry Slam vai reunir poetas de 16 nacionalidades na disputa pelo título mundial, mais uma vez com a curadoria da slam-master Roberta Estrela D’Alva. Poetas de diversas periferias brasileiras ainda vão competir no FLUPP Slam BNDES, de que participarão slammers de estados como Sergipe, Minas Gerais e São Paulo. E o FLUPP Slam Colegial será formado por poetas de escolas estaduais de cinco regiões populares do Rio de Janeiro. As seletivas aconteceram em outubro e 16 jovens foram escolhidos para competir na FLUPP.

Confira a programação completa no site oficial do festival.