No imaginário popular, tanto as dificuldades do conflito Israel e Palestina quanto os conflitos que cercam a favela são vistos como problemas antigos e sem solução que devem ser resolvidos por intervenções militarizadas. A guerra entre polícia e favelas e a guerra entre a Palestina e Israel são noticiadas diariamente pelos jornais e reforçam a desumanização das comunidades atingidas pela violência policial, assim como as notícias sobre a pacificação entre Palestina e Israel passam longe de abranger a complexidade dos conflitos que afetam a população palestina.
Para reforçar os estereótipos dessas populações o noticiário é recheado de elementos simbólicos que preenchem o imaginário social, são: tanques de guerra, políciais armados com fuzis, pessoas chorando seus mortos ou ações de caridade e políticos negociando algum acordo de paz e cessar fogo sem necessariamente entender e contemplar a realidade local. Além das narrativas jornalísticas sobre esses territórios outra semelhança de representação une os palestinos e favelas, o não reconhecimento de seus territórios por aplicativos de mapas e localização.
O “sumiço” da Palestina nos mapas virtuais ganhou repercussão nesta semana quando a embaixada da Palestina em Brasília publicou em suas redes sociais que o serviço de pesquisa e visualização de mapas da Google, teria retirado o Estado palestino do mapa. Na postagem a embaixada denuncia que o local onde aparecia a Palestina se tornou “parte da grande Israel”. Mas a situação não é novidade, no ano de 2016 o aplicativo mudou a cor da marcação da Crimeia e Palestina e não há nomeação das duas regiões do aplicativo. Na época o responsável técnico pela área geo-espacialidade da Google disse ao jornal The Guardian que “pode soar ingênuo, mas esperávamos ter um mapa global que todos pudessem usar, mas a política é complicada”, justificando a ausência dos dois países.
Há uma petição internacional no site Change.org lançado em janeiro para a inclusão da Palestina no aplicativo, o documento já possui mais de 900 mil apoiadores. Não estar no mapa também não é novidade para as favelas em todo o Brasil , os acentos urbanos não estavam inclusos nas primeiras versões dos mapas do aplicativo e, segundo um estudo da ONG UN-Habitat (2015), cerca de 60% das favelas brasileiras não tem registros em aplicativos de localização virtual. Em 2013 o Google chegou retirar do mapa muitas favelas cariocas e paulistas com o argumento que a situação assusta os turistas e que os algoritmos reconheciam favelas muito pequenas como bairros o que distorcia a noção espacialidade dos locais e que muitas ruas não havia espaço para veículos passarem. Após denúncias nas redes sociais das comunidades apagadas do mapa a empresa recolocou as favelas no mapa.
O apagamento da Palestina e das favelas nos aplicativos de mapas e a narrativa das grandes mídias favorece para a formação do imaginário social carregado de esteriótipos e formação da opinião pública limitada sobre estes territórios. Ao mesmo tempo percebemos que há mais semelhanças na exploração do que diferenças entre os povos, defender a Palestina é defender vida e liberdade assim como defender as vidas da periferia é defender a paz e a não segregação de espaços e pessoas. Por uma Palestina livre e um Brasil sem violência.