O espetáculo “Força de Um Corpo”, será apresentado nos dias 25 e 27 de abril, no Teatro Gregório de Mattos, na Praça Castro Alves e no auditório do Centro Estadual de Educação, Inovação e Formação da Bahia Mãe Stella (CEEINFOR), localizado no bairro do Cabula, às 16h e 15h, respectivamente. A entrada é grauita.

A iniciativa faz parte do projeto “Arte Milenar – Acessando o Passado para um Futuro brilhante”, em comunhão com jovens-estudantes do Centro de Educação. Bairro da Cabula, terreiro assentado por corporeidades que dançam e contam a historicidade de povos vindos de África e de seus descendentes nascidos na baía de todos os orixás. Seu nome, nascente Kabula, toque atabaque dos reinos do Congo e Angola. Cabula é espaço-tempo de encruzilhadas dançantes embaladas por ritmos que descendem destes povos. O que podemos chamar de “corporeidade”.

A montagem é o desaguar dançante de um processo criativo interseccionado pelas simbologias e perspectivas Yorubá e Hindu, filosofias que integram a pesquisa do artista-educador Indra Carvalho, proponente do projeto, compartilhadas com os jovens durante um circuito de atividades desenvolvidas desde 18 de março. A partir desta provocação – que contou com oficinas de ioga, danças e músicas afro-brasileiras, nasce “Força de Um Corpo”, um rito de autoficção permeado pela musicalidade e corporeidade social destes estudantes.

A partir de uma dramaturgia disparadora escrita por Indra Carvalho, o espetáculo é permeado pelas histórias e ancestralidades de: Bruna Marques, Kaique Lucas, Maria Eduarda Reis, Carlos Castro, Lucas Rosário, Divo João, Arthur Soares, Joana yasmim santos, Kyle Soares, Castreal, Lucca Santos, Yasmin Gama, Azis Assis Dos Santos, Maria Clara Santos, Adriano Gomes Santana, Clarissa Fortunato, Carlos Vinícius e Weslei Rodrigues.

“Provocamos os estudantes a uma experiência única de escuta e memória corporal. Para isso, utilizei técnicas de respiração da filosofia Hindu, permeada pela musicalidade Yorubá e mitologias dos orixás. Os exercícios de respiração aumentam a percepção corporal. Essa prática transformou nossos encontros, proporcionando um outro ambiente nas aulas e discussões”, explica Indra Carvalho, que também assina a direção do espetáculo.

O diretor e dramaturgo acrescenta que buscou provocar os estudantes a respeito do epistemicídio filosófico das culturas Yorubá e Hindu na Bahia-Brasil, e o etnocentrismo eurocêntrico. “Isso enriqueceu significativamente nossas discussões e reflexões no âmbito da cultura, arte e filosofia. São jovens que estão iniciando suas andanças e que precisam entender a estrutura racista da nossa sociedade”, ressalta.

“Um Corpo sem Exu, é um corpo em coma”, diz o babalorixá Rychelmy Imbiriba, da Casa do Mensageiro. Exu é o início, a comunicação. Se ele é o início, estudar o passado é compreender o presente, é cuidar do ori / da cabeça de jovens adoecidos pela violência social. É fortalecimento de corpos. “Ao convocar Légua, buscamos e pedimos licença para curar nossos corpos. É uma mostra artística que apresenta a força do corpo dentro de uma perspectiva ancestral. Iremos falar sobre Légua, as águas e os ventos das Yabás que nos curam, afastam tudo que é ruim e deixa só o que for bom”, pontua Indra.

O estudante Carlos Vinícius, de 16 anos, morador da Estrada das Barreiras, no Cabula, fala que o Arte Milenar o fez perceber que é possível investir e acreditar na dança ancestral que compõe o seu corpo. “Vim para o projeto achando que seria somente uma aula de dança. Algo que sempre quis fazer. Mas, encontrei Arte e Cultura. Aqui pude me desvencilhar de preconceitos e de discursos intolerantes. Logo que, cresci em uma ambiente cristã”, destaca o jovem.

O espetáculo conta com a direção musical de Yrlan Guedes e Peu Matiz. Além de células musicais compostas para a montagem, a dramaturgia é permeada por melodias e ritmos que fazem parte do cotidiano destes corpos, como o samba, o toque ancestral do pagode e o descendente pagotrap, o hip-hop, entre outros ritmos.

Em cada encruzilhada soteropolitana, um ebó transdisciplinar de culturas que compõem os corpos memórias de cada cidadão desta cidade. “Força de Um Corpo” é dramaturgia e musicalidade compostas por histórias ancestrais de jovens e adolescentes Kabula, que convocam a força de um povo transatlântico para expor novas perspectivas de vida.

O espetáculo, durante o processo criativo, contou com a participação e provocação do pedagogo Rubens Celestino, do indígena Taquari Pataxó, do babalorixá Wilson de Ogum e dos coreógrafos e bailarinos Paco Gomes e Tati Campêlo.

O Arte Milenar – Acessando o Passado para um Futuro Brilhante é contemplado pelo edital Territórios Criativos, com recursos financeiros da Fundação Gregório de Mattos, Secretaria Municipal de Cultura e Turismo, Prefeitura de Salvador, e da Lei Paulo Gustavo, Ministério da Cultura, Governo Federal.