Mesas de discussão colocam em pauta participação e mídia com jovens líderes da periferia
Jovens, influentes, nascidos e criados na periferia: o Fórum Juventude e Mídias Sociais, organizado pela Escola de Comunicação da UFRJ (ECO/UFRJ), levou para a Casa da Ciência um grupo muito diferente do que costuma frequentar os debates na academia. Ana Paula Lisboa (Agência de Redes para Juventude / O Globo), Tay Oliveira (Blog da Taya), Romario Regis (Agência Papagoiaba), Felipe Gaspary (Batalha do Tanque) e Ingrid David (Baluarte Produtora) se uniram a Amaury Fernandes (ECO/UFRJ), Ivana Bentes (ECO/UFRJ) e Rafaela Marques (LAB.Rio) para falar sobre os usos de redes sociais, mas o que se viu foi uma série de questionamentos que perpassam a própria noção de juventude nos dias de hoje.
Depois de uma análise aprofundada dos movimentos políticos jovens pós Junho de 2013 por Ivana Bentes, a plateia majoritariamente feminina presente assistiu a um desfile de questões que desafiam o burocratismo do discurso acadêmico. A coordenadora de comunicação do LAB.Rio Rafaela Marques introduziu o assunto tratando das possibilidades da participação social em tempos de mídias digitais.
A coordenadora da Agência de Redes da Juventude e colunista do Jornal O Globo Ana Paula Lisboa falou sobre as oportunidades de desenvolvimento que jovens das periferias, como ela, podem ter quando estimulados: “Visibilidade é um direito que dispara outros. É importante oferecer uma nova oportunidade a jovens que estão fora das redes e representá-los não no lugar da carência, mas da potência”.
Dando prosseguimento à mesa redonda mediada por Ingrid David, a blogueira e ativista do movimento negro Tay Oliveira dividiu com os presentes alguns aspectos da chamada Geração Tombamento, fenômeno global que trouxe a valorização da cultura e da beleza negra para as redes sociais e a grande mídia. A estética própria, negada por tanto tempo a mulheres negras, tornou a jovem de Nova Iguaçu uma referência de estilo: “É fútil discutir estética hoje, no momento político que vivemos? Sim, mas a futilidade estética sequer era aberta para nós. Precisamos trabalhar a autoestima”.
Empreendedorismo cultural na periferia
“Na periferia, o que mais atrapalha a vida do jovem é o McDonald’s, não o tráfico”, disparou o produtor cultural e fundador da Agência Papagoiaba Romário Regis. No campo da geração de oportunidades no mercado de trabalho para as áreas mais pobres da região metropolitana, Romário tratou das dificuldades de autossustentabilidade das iniciativas de jovens de periferia nas áreas da comunicação. “É preciso ter clara a necessidade de se acoplar os processos econômicos aos processos de criação”, afirmou.
O produtor da disputa de MCs Batalha do Tanque e vlogueiro Felipe Gaspary foi além do empreendedorismo digital e da apresentação das ferramentas de monetização de conteúdo no Youtube. Felipe compartilhou sua visão sobre o mercado da produção cultural do Rio de Janeiro e fez eco à posição de seu conterrâneo Romário: “Às vezes, é muito fácil falar como deve ser o movimento, mas isso fica muito difícil quando não existe empoderamento financeiro”, finalizou, encerrando os trabalhos de um fórum que só poderia acontecer naquela hora, naquele lugar e com gente que já está fazendo história.