A temática deliberada de expor o ex-presidente Jair Bolsonaro como representante maior da extrema direita do Brasil atual, não é algo aleatório tendo em vista os processos no judiciário dos seus atos antidemocráticos ao longo de sua gestão, culminando na tentativa de golpe no dia 08 de janeiro de 2023, levando-o a enfrentar o seu maior julgamento, que se inicia neste 25 de março, no Supremo Tribunal Federal (STF).

Da mesma forma, não se pode afirmar que não existe uma extrema direita criminosa no Brasil, pelos atos torpes de endosso a ações de ataque a democracia, que no governo Jair Bolsonaro se configurou principalmente na antipolítica, no negligência da pandemia do Covid-19 e no negacionismo científico.

Pois bem, assim estamos dissertando que existiram frentes que se organizaram no espectro político-institucional em defesa da democracia: a Frente Ampla, que juntou partidos políticos de diversas matizes ideológicas, substancialmente organizada institucionalmente, tendo como maior representante o Congresso; o Judiciário, que se destacou em diversas instâncias para superar o “lavajatismo” como referência de judicialização e emplacar ações consequentes para harmonia democrática de poderes, tendo como maior representante o STF; e a Frente pela Vida (FpV), que mobilizou a sociedade civil e movimentos sociais para o enfrentamento à pandemia do Covid-19 e ao negacionismo científico, tendo como maior representante a aliança com intensidade nunca visto antes entre o movimento sanitário e a comunidade científica (isso não significa que sanitarismo e ciência sejam apartadas, mas que o ambiente de mobilização foi ampliado consideravelmente).

Evidentemente, tais ações não podem e nem devem serem personificadas, muito menos personalizadas, pois como o próprio termo “frente” sugere, tratam-se de iniciativas coletivas, alicerçadas em última instância em grupos e classes sociais, e que no eminente conflito, ou seja, no enfrentamento ao bolsonarismo muitos quadros e atores políticos, técnicos e sociais se destacaram. Mas para uma visualização didática de movimentação social, política e institucional temos como referências as seguintes posturas: do político Geraldo Alckmin no âmbito partidário como protagonista da construção da Frente Ampla; do juiz do STF, Alexandre de Moraes, na judicialização das ações antidemocráticas simbolizadas principalmente nos últimos “07 de setembros da extrema direita”; e na ex-presidente da Fiocruz, Nísia Trindade, que dirigiu tal instituição no período de construção do acesso à vacina contra o Covid-19, implementou iniciativas de conscientização da população e assinou a Carta Compromisso da FpV (recentemente veio a ser a ministra da reconstrução do SUS, nos primeiros dois anos da gestão Lula-3).

Portanto, é inegável que essas frentes organizadas contra ações reacionárias anti-vida e anti-Brasil atuam nas esferas institucional, judiciária e social, todas pleiteando a vigência e o fortalecimento da Constituição Federal. Isso remete à defesa da democracia e da boa prática política. Um exemplo simbólico desse compromisso foi uma das primeiras agendas do segundo ministro da Saúde no governo Lula 3, Alexandre Padilha, que se reuniu com a FpV em 11 de março. Na ocasião, a essência do propósito da FpV no âmbito político foi sintetizada na fala do professor Túlio Batista Franco (UFF):

“Nós colocamos uma avaliação de que o ciclo político que estamos vivendo ainda exige do Ministério da Saúde e do governo uma defesa intransigente da democracia, o fortalecimento das políticas sociais e uma forte conexão com a base da sociedade.” (Disponível em: outraspalavra.net – 17/03)

Neste sentido, e com esses exemplos demonstra-se que as virtudes, experiências e novos significados gerados no enfrentamento ao bolsonarismo tenham perspicácia para um contínuo. Em nível de articulação, mobilização e projeção. Que perpassa substancialmente pela necessidade do fortalecimento da democracia, e para além disso, um projeto de nação desenvolvido socialmente, economicamente e culturalmente de maneira sustentável. Em diálogo com novos adventos sociais, ambientais e tecnológicos, mas não somente diplomaticamente, e sim como um protagonista, fomentador e construtor de ações concretas imprescindíveis para as saídas humanitárias em nível global.