O general Sérgio Etchegoyen acha que os terroristas do 8 de Janeiro são vítimas de injustiça. Ele acha também que as invasões e os atentados contra a democracia não foram mais que “acidente” e “triste episódio”, e que todos os presos naquele domingo e nos dias seguintes merecem ser anistiados. Ainda na sua opinião, o Supremo e o TSE “carecem de credibilidade”, os juízes são “apaixonados por microfones” e gostam de “falar mal do país lá fora”. “Isso é inaceitável!”. “É legítimo duvidar do resultado (das eleições)”, o general declarou em entrevista à TV Pampa, do Rio Grande do Sul, onde vive atualmente.
Sérgio Etchegoyen foi chefe do Gabinete de Segurança Institucional do curto período Michel Temer, mas atuava na inteligência militar desde o governo Dilma Rousseff, deposta em 2016. O general vem de berço golpista, seu avô, pai e tio participaram do Estado Novo em 1937, da tentativa de impedir a posse de Juscelino Kubitschek em 1955 e da ditadura de 1964/85. Com árvore genealógica assim, não estranha o que ele disse à tevê sulista e que o jornalista Bernardo Mello Franco resume no seu blog no site do Globo:
“Etchegoyen está invocado com Lula. Nos últimos dias, o presidente criticou a segurança do Planalto e afirmou que ‘perdeu a confiança’ em parte dos militares. Para o ex-ministro, a frase revelou ‘profunda covardia’. De Lula, não dos militares que permitiram a invasão. ‘É a velha técnica de procurar culpados, protestou’. ‘Como é que se pacifica o país a partir daí? Como é que pacifica as Forças Armadas?’”.
Todos os Etchegoyen militares envolvidos em crimes golpistas mal ou bem sucedidos foram anistiados, o que ajuda a entender por que o general classifica os episódios do último dia 8 de janeiro como um mero tropeço, um mau passo. Sua entrevista à TV Pampa, cuja veiculação Mello Franco não informa, mas creio bem recente, pelo conteúdo e pela maneira subalterna como foi conduzida, ganha espaço muito maior graças à repercussão no Globo.
E no mesmo dia em que o presidente Lula tem reunião com o ministro da Defesa e os comandantes militares para tentar despolitizar a farda. Os militares já avisaram que não aceitam mudanças no seu regime de previdência, nos critérios de promoção, na equiparação de direitos entre pessoal ativo e inativo e outros penduricalhos que transformaram os militares numa casta entre a população.
Daqui do meu posto de observação, posso ver Lula explicando aos generais, almirantes e brigadeiros que tudo isso é assunto para o Congresso Nacional, um dos três poderes da república, que pensa pela própria cabeça – como Sérgio Etchegoyen. Além do que, as forças armadas não estão, ao contrário de meio século atrás, em condições de impor privilégios históricos indefensáveis aos olhos do estado.