O Golpe Literário de Vinícius Araújo é um verdadeiro atentado, consciente, do poeta nascido e criado no Bairro da Paz, espaço que foi conquistado com muita luta contra o Estado.
Assim como o livro, realizado contra todas as apostas escritas e invisíveis que comanda o que pode e não pode ser escrito, pensado, publicado.
Baseado em fatos reais, o poeta declara que legalizar o amor é fazer brisa para o poeta!
Logo na capa, artesanal, manchada de ‘sangue’, um revólver em alto relevo, calibre 38, denuncia a quantidade de poemas do livro, o primeiro de muitos crimes poéticos.
A obra vem amarrada com um par de cordões. Para ter acesso ao conteúdo é preciso desatar os nós, inclusive das pesquisas de opinião, em que metade prefere investimento na área social e o restante em repressão…
Como Literatura Marginal é A Voz da Favela, a voz que ecoa nesse Golpe Literário é a da liberdade do poeta, que cria e recria, inventa, subverte a ‘ordem’ das coisas, da vida, e impõe sua criatividade, sagaz, crítica, ácida, ciente de seu potencial de Deus da Palavra, de visão de mundo. E o amor costura tudo!
Com passos firmes, relata a realidade visceral da favela-mundo, com forte e precisa visão cosmopolítica, entrecruzando as causas/consequências da gestão neoliberal que avassala o planeta e respinga em cada quintal, na necessidade de escolhas forçadas pra sobreviver.
Injustiças sociais, amor bandido, profissões subalternas, quebrando as regras dos aprisionamentos, sem pagar imposto, sem baixar a cabeça para a opressão, o poeta cria seu estilo, recria mundos e fantasia metáforas para navegar seu espaço encantado.
Tudo é matéria para o poeta, que se esquiva das covardias e traça estratégias para a eternidade das letras, um surfista que surfa nas lágrimas. Desde as memórias mais íntimas aos temas universais e filosóficos, ele se debruça sobre.
Não é poeta de clichês, de denúncias fáceis, palavras avulsas. Seu vocabulário contra o fascismo, racismo, e todos os ismos é diamante lapidado, esculpido, polido e subliminar, cuidadoso nas construções do ‘português errado’, o invasor do Brasil e que Sobrevivente delata.
É bardo que conversa com as paredes, voa pelos ares com as pipas, toma remédio descontrolado: poesia que evita suicídio!
O poeta declama “Quando criança queria ser MILITAR, até tomar o primeiro enquadro” e eu não me enquadro, só espio e me arrepio. Esse é o recado do Poeta Fascista, do Bairro da Paz, e da Poesia!