O presidente Jair Bolsonaro, que de números só sabe contar os passos para chegar ao Posto Ipiranga, disse hoje, 22, que vai negociar com a Câmara e o Senado novo valor para a quarta e a quinta parcelas do auxílio emergencial repassado pela União durante a pandemia. De cara, adiantou que R$ 600 está fora de questão:
“A União não aguenta outro desse mesmo montante que por mês nos custa cerca de R$ 50 bilhões. Se o país se endividar demais, vamos ter problema”, disse em entrevista após evento de lançamento do canal de televisão Agromais, da Rede Bandeirantes.
“Vai ser negociado com a Câmara, presidente da Câmara, presidente do Senado, um valor um pouco mais baixo e prorrogar por mais dois meses talvez a gente suporte, mas não o valor cheio de R$ 600”, afirmou. Ele não faz ideia de quantos benefícios foram pagos a militares que não precisam, a foragidos da justiça que não merecem nem quanto ainda falta pagar aos inscritos necessitados que não ganharam até agora.
O problema, como sabe qualquer economista do governo, é que o modelo excludente, privatista, pró-banqueiros comandado pelo Posto não permite qualquer medida distributiva da renda nacional, nem mesmo em circunstâncias excepcionais como uma pandemia. Falar em atualizar a tabela do imposto de renda, taxar lucros de capital, aumentar alíquotas e dobrar o valor do salário mínimo é arriscar-se à Lei de Segurança Nacional ou ter que fugir do país como um ex-ministro ameaçado pelo Supremo Tribunal Federal. Assim, resta a cantilena de sempre do presidente, que sequer fala em “crescer o bolo para depois repartir” como um Delfim Neto tardio.