Graffite para promover os direitos das mulheres

Créditos: Yasmin Ferreira

“NAMI” significa “Mina”, gíria para menina, mulher com as sílabas ao contrário. A inversão das sílabas faz parte de uma língua criada no bairro do Catete, no Rio de Janeiro, durante os anos 60 chamada “Gualín do TTK”. A linguagem funcionou como um dos mecanismos de driblar as repressões da ditadura militar.

A rede NAMI é uma organização formada por mulheres. Essa organização utiliza a arte como veículo de transformação cultural positiva, promoção de seus direitos, sobretudo luta pelo fim da violência doméstica. A importância social dos projetos é a promoção do conhecimento sobre os direitos das mulheres, para que cada vez mais elas saibam sobre e, assim, evitem permanecer em situações de violência, sejam elas quais forem.

Créditos: Renata Anchieta

A Rede NAMI surgiu do desejo de sua fundadora, Panmela Castro, em contribuir para o fim da violência contra a mulher e fomentar o protagonismo de mulheres nas artes. Ainda quando muito jovem, Panmela foi vítima de violência doméstica e o graffiti surgiu como uma maneira de ressocialização depois de um período de depressão.

Após conquistar visibilidade como grafiteira, ela percebeu que poderia usar o graffiti para que outras mulheres não passassem pela mesma experiência negativa que ela havia vivenciado. Então, dois anos após a aprovação da Lei Maria da Penha, Panmela começou a fazer oficinas em que o graffiti era ferramenta de comunicação para a promoção e o conhecimento da lei e, principalmente, para pensar a posição da mulher na sociedade. A metodologia das oficinas foi considerada inovadora, e por isso recebeu uma homenagem internacional na categoria de direitos humanos. Com o crescimento da demanda e a percepção de que o trabalho funcionava de forma muito efetiva e positiva, em 2010 Panmela convidou amigas para fundar a NAMI, que foi formalmente registrada em 2012 e, desde então, mais de 6.000 participantes já passaram por suas oficinas de Graffiti Pelo Fim da Violência Contra a Mulher do projeto #AfroGrafiteiras.

A NAMI estimula a formação artística de mulheres e sua inserção no mundo da arte para a sua autonomia econômica e intelectual com diversos projetos. Uma de suas atividades é o #InterNAMI, projeto que proporciona visitas guiadas a galerias, museus e ateliês, visando a formação para o crescimento na esfera profissional e de entendimento das estruturas sócio-raciais que incidem sobre as mulheres.

Créditos: Yasmin Fereira

Em 2015, a NAMI percebeu que apesar do número de feminicídios estar diminuindo entre as mulheres brancas, estava aumentando entre as mulheres negras. A partir desses dados foi formado o projeto #AfroGrafiteiras,  focado no uso das artes urbanas através de perspectivas do feminismo negro, que propõe a desconstrução de narrativas coloniais pelas quais as quais as mulheres negras e suas artes costumam ser compreendidas. O projeto mudou a direção da organização ao tornar as discussões de raça uma prioridade.

Já para fomentar a produção de arte contemporânea por mulheres e inseri-las no mercado da arte, a NAMI criou o Grupo de Acompanhamento em Arte Contemporânea, projeto que surgiu como um desdobramento do #AfroGrafiteiras. Trata-se de encontros semanais que ocorrem durante dois meses, onde as participantes apresentam seus trabalhos de arte contemporânea, que são analisados pelos facilitadores e debatidos pelo grupo. Nestes encontros, também são indicadas referências artísticas e bibliográficas acerca de cada pesquisa, que auxiliam as artistas no preparo de um projeto de obra para ser produzida e apresentada em exposição organizada pela NAMI ao fim das atividades.

Também em 2015, a NAMI criou o Fundo NAMI / Marielle Franco, através do qual artistas, especialmente as negras, têm seus projetos de artes urbanas e culturais apoiados com material de pintura. A NAMI aposta em ações que buscam mudanças culturais para o país, dando passos importantes para a erradicação do machismo, da misoginia, da lesbofobia e das LGBTQIA+fobias, do preconceito étnico-racial, social, etarista, entre outros.

Outra atividade da Rede NAMI é o projeto Graffiti Pelo Fim da Violência Contra a Mulher, que consiste em uma campanha educativa e de comunicação, com o intuito de aprimorar a busca e o acesso aos serviços de apoio às mulheres vítimas de violência, promover e divulgar a Lei Maria da Penha, seus instrumentos e outros recursos disponíveis para o enfrentamento à violência baseada em gênero.

Além dos projetos citados acima, você também pode conhecer o Museu Vivo NAMI, que é um museu a céu aberto que propõe a ideia decolonial da arte urbana brasileira, subvertendo, reconstruindo e dando origem a outras formas de poder e conhecimento, fomentando a produção artística de grupos à margem da cena do graffiti, principalmente carioca. O museu reúne criações realizadas em um circuito na comunidade da Tavares Bastos, no Catete, Zona Sul do Rio.

É oferecida às mulheres e aos artistas periféricos a infraestrutura necessária para criar suas obras nas paredes da comunidade, a fim de subverter a lógica Centro x Periferia, emancipando artistas de gueto, proporcionando a interação entre artistas urbanos periféricos, participantes das oficinas do projeto #AfroGrafiteiras e moradores, gerando um ambiente de aprendizagem e troca através destas ações. As pinturas no Museu vem acontecendo desde 2013, quando a Rede NAMI instalou seu escritório na comunidade e até o presente momento já recebeu-se murais de mais de cem artistas do Rio de Janeiro, Brasil e exterior.

Só no ano passado a Rede teve quatro turmas do projeto #AfroGrafiteiras com um total de 176 participantes, sendo 1.224 imagens grafitadas, também apoiaram com material de pintura 25 projetos pelo Fundo NAMI Marielle Franco, totalizando 873 sprays investidos. Além da livre visitação do público no Museu Vivo NAMI na comunidade da Tavares Bastos.

Créditos: Yasmin Ferreira

Questionadas sobre as metas futuras, as dirigentes da Rede NAMI declaram que “até um tempo atrás lutávamos pela criação de novas leis que protegessem as mulheres, porém, agora estamos em um momento que precisamos lutar pra não perder as leis já existentes e os direitos já conquistados. Estamos vivendo um momento de retrocesso, mas para o futuro esperamos superar isso, e voltar com a luta pela emancipação da mulher.”

 

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