Voltando da Guerra de Canudos, o correspondente de guerra Euclides da Cunha denunciou o assassinato de mais de 5.000 pessoas – entre elas, mulheres, crianças, idosos. Todos mortos junto com os sertanejos que resistiam à fome e à seca.
A maior de todas as violências da história do Brasil aconteceu ainda no Descobrimento. Os colonizadores chegaram e destruíram as sociedades que aqui estavam de forma cruel e irreparável, além de escravizar seres humanos para expandir sua ganância, sempre em busca de riqueza fácil. Esse era o espírito aventureiro dos exploradores, que não precisavam plantar para colher e nem trabalhar, pois se valiam de explorar o trabalhador e o meio ambiente até o limite.
No período colonial, a união da população abastada acontecia para garantir a própria defesa contra indígenas e negros escravizados vindos do continente africano. No início da República, as batalhas pela unificação eram o motivo da unidade nacional, como no caso de Canudos. Em muitos dos combates, ao final, não havia prisioneiros – todos os vencidos acabavam mortos. Assim como o Estado faz muitas vezes hoje no Rio de Janeiro, as forças de repressão não eram treinadas para prender, apenas para matar.
A violência que sustenta o Estado brasileiro é a mesma de todos os tempos. O Estado mata pobre, seja nas aldeias do século XVII, seja nas favelas do século XXI. A ordem é o extermínio. Ela não precisa ser dada pelos comandantes. Essa informação está posta no inconsciente coletivo dos repressores no momento em que se entrega nas mãos deles uma arma de fogo e os abandonam à própria sorte.
As capas dos grandes periódicos são valores agregados para melhores anunciantes, cada vez mais ricos e poderosos. A temática que mais vende é a notícia policial, e os anúncios mais pedidos são os relacionados a saúde e segurança privada, condomínios fechados, entregas de alimentos em domicílio etc. Ou seja, tudo para proteger os cidadãos de bem do monstro que habita as ruas: os pobres.
Hoje, a favela é o motivo de uma união nefasta dos poderes. São inúmeros assassinatos de crianças, adolescentes, idosos. Trabalhadores e estudantes morrem em uma guerra centenária. O poderoso extermina o pobre com a arma do Estado. O motivo é sempre o mesmo: “melhorar a nossa situação”, “libertar do julgo do opressor”, “salvar nossas almas das drogas”, “ordem e progresso”… E assim vão nos matando a cada dia.
A polícia protege o Estado, e o Estado protege a propriedade. Você possui uma propriedade? Se não é o seu caso, será que está sendo protegido? Ou será que a protegem de você?