Greve dos funcionários dos Correios reacende discussão sobre privatização

Funcionários dos Correios entram em greve após retirada de direitos - Foto Fernando Frazão/Agência Brasil

Na noite de ontem 17, cerca de 100 mil funcionários dos Correios de todo o país, declararam greve por tempo indeterminado. De acordo com a Federação Nacional dos Trabalhadores em Empresas dos Correios e Similares (FENTECT), a greve é contra a perda de direitos que a categoria vem sofrendo, a negligência com a saúde dos trabalhadores em relação à Covid-19 e a privatização da empresa.

De acordo com a FENTECT, a greve se mostrou necessária pois a empresa se negou a negociar acerca dos direitos retirados dos trabalhadores. “Desde o dia 1º de agosto revogaram o acordo coletivo em vigência até 2021, eliminando 70 cláusulas com direitos como 30% do adicional de risco, vale alimentação, licença maternidade de 180 dias e auxílio creche”, disse a federação, em cujo site consta que eles os empregados tiveram que acionar a justiça para que fossem garantidos equipamentos de segurança, álcool em gel, testagem e afastamento de funcionários dos grupos de risco e aqueles que coabitam com grupos de risco ou têm crianças em idade escolar.

Segundo José Rivaldo da Silva, secretário geral da FENTECT, a precarização dos Correios é estratégica. “O governo Bolsonaro busca a qualquer custo vender um dos grandes patrimônios dos brasileiros, os Correios. Somos responsáveis por um dos serviços essenciais do país, que conta com lucro comprovado, e com áreas como atendimento ao e-commerce que cresce vertiginosamente e funciona como importante meio para alavancar a economia. Privatizar é impedir que milhares de pessoas possam ter acesso a esse serviço nos rincões desse país, de norte a sul, com custo muito inferior aos aplicados por outras empresas”, completou.

Nas redes sociais foram muitas as manifestações de apoio à luta contra a privatização: “Não há vitória sem luta! É imoral mais ricos aumentarem suas fortunas durante a pandemia e os trabalhadores perderem seus direitos!”, disse um. Em outro relato nas redes sociais, uma pessoa conta uma experiência pessoal:

“Meu pai é carteiro e desde o início da pandemia tá trabalhando exaustivamente – às vezes até aos domingos. Sem medidas de proteção, vários colegas dele estão com corona, não tem teste pra todo mundo e agora estão cortando vários benefícios que eles lutaram anos para conseguir. O serviço deles é essencial, principalmente nesse momento de pandemia. Para além de entregar a nossa encomenda de cada dia, muitos testes e equipamentos de proteção individual foram enviados por eles. Mas o governo não acha importante a segurança e saúde desses funcionários. Vejo pessoas dizendo ‘Ah, de novo os carteiros em greve’, mas não conseguem pesquisar e procurar entender o porquê. Muita gente ficou ou está há meses em isolamento social, comprando horrores na internet. São pessoas como meu pai que estão arriscando a vida entregando essas encomendas. Nem vou falar do psicológico dessas pessoas, problemas que ninguém sabe, ninguém vê e ninguém pensa que existem”.

Embora apoiando o movimento dos Correios contra a perda de direitos e ameaça de privatização, militantes da esquerda sindical ligada ao Partido dos trabalhadores e à CUT dizem que eles estão colhendo o que plantaram desde antes do impeachment de Dilma Rousseff, quando apoiaram o golpe inclusive queimando bandeira em frente à sede da empresa, em Brasília.

Carteiros queimam bandeira do PT em frente à empresa – Reprodução do Twitter