“Das sombras da cadeia para as luzes do palco”: assim se apresenta o KRIADAKI, a única companhia teatral brasileira formada por detentos e egressos do sistema penal a ter montagens cênicas com texto, direção e produção próprias.
O grupo, fundado por detentos, é fruto do projeto de extensão “Teatro nas prisões”, da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO), que atua no sistema prisional há 21 anos. Na expressão artística, seus membros perceberam uma possibilidade de reescrever suas histórias. E no teatro, viram uma ferramenta de transformação individual e social.
Em biografia, a companhia define a sua missão. “Buscar resgatar a autoestima, evitando a reincidência dos integrantes do grupo, tentando apontar novos horizontes na vida em sociedade e, ao mesmo tempo, atuando de forma preventiva, junto aos jovens de nossas comunidades, em situação de vulnerabilidade.” Em cada apresentação, são propostos debates e reflexões acerca do exercício da cidadania e dos direitos e deveres de cada cidadão.
O KRIADAKI deseja, por meio da arte, exemplificar que a transformação local e pessoal é possível. Suas exibições, sempre abertas ao público, incentivam o pensamento no coletivo e o questionamento a situações sociais já naturalizadas. Atualmente com a peça “Dois neurônios numa mente suja”, buscam avaliar a atuação das autoridades na formulação de políticas públicas em áreas como educação, cultura, esporte, lazer e segurança, essenciais para a vida e para o amadurecimento dos indivíduos.
“Usando a metalinguagem, o grupo põe em cena, um autor sentado à mesa, pensativo em busca de argumentos para uma nova peça. Oscilando entre a escrita e pensamentos, as personagens vão surgindo querendo espaço para denunciar as opressões sofridas. Usando da licença poética Tonho, Negão e Carocinho, personagens de Plínio Marcos, se materializam recém-saídos da cadeia… Tonho querendo convencê-los a largar o crime e usarem o teatro para dar voz aos favelados, aos presos e outras classes de excluídos. Negão e Carocinho que estão planejando fazer um assalto, contra-argumentam: Quem ajudaria um grupo de ex-detentos a largar o crime e formar um grupo de teatro? Afinal, verbas públicas só são usadas para construir cadeias. Após intenso tiroteio na favela, Maria entra na cena e com profunda revolta anuncia que morreu outra criança, pois “no meio do caminho tinha uma criança… tinha uma criança no meio do caminho”. Após a entrada de outras personagens que trazem para a cena reflexões sobre o encarceramento em massa, a guerra às drogas e a diminuição da maioridade penal, a peça nos leva a refletir: Não seria melhor garantir a cada criança, o alimento, a educação e todas as condições necessárias a sua subsistência a fim de que nenhuma criança se veja na necessidade de cometer crimes, para serem presas ou mortas depois?”
No próximo sábado, 8 de dezembro, o grupo apresentará a primeira edição do “Sarau Kriadaki”, na Quadra do Pica-Pau, localizada na comunidade do Pica-Pau Jacarezinho. O evento é gratuito e terá apresentações de teatro, poesia, rap, performances e DJ ao vivo.
