O mandatário do Ministério da Defesa declarou que estamos em guerra. Em dez anos, o Estado do Rio de Janeiro solicitou 12 vezes a intervenção das Forças Armadas ao Governo Federal. Só nos últimos 12 meses, o reforço foi pedido em quatro momentos: durante as Olimpíadas (agosto de 2016), nas eleições (outubro de 2016), na votação do pacote de austeridade na Assembleia Legislativa (fevereiro de 2017) e agora para auxiliar nas ações de implementação do Plano Nacional de Segurança. Em 2013, o Governo Federal enviou tropas para proteger um leilão de campos de petróleo. Um ano depois, a presidente do país enviou milhares de soldados para “acabar com o crime organizado”, mas pouca coisa tinha mudado no local 365 dias depois.
Qual é o resultado real dessas operações? Nenhum.
Algumas toneladas de drogas e umas centenas de armas fortalecem o modus operandi de enxugar gelo. Aliás, enxugar gelo uma ova. Trata-se de uma política clara de matança e opressão às pessoas que moram e vivem nas áreas ocupadas. Não foram poucos os casos de inocentes que morreram ou foram feridos por “balas perdidas” disparadas por soldados. É impossível esquecer do caso de Irone Santiago, que teve seu filho Vitor Santiago Borges baleado por um soldado do Exército no Complexo da Maré. Em decorrência desse tiro, o rapaz ficou paraplégico, perdeu a perna e sofre com sequelas que o acompanharão por toda a sua vida. Até hoje, os militares e o Estado nada fizeram para indenizar a família.
A lógica dessas ocupações é sempre a mesma. Tanques e blindados em ruas, praças, vias públicas e, principalmente, nas favelas da Zona Norte do Rio. No fim de semana passado, tivemos algumas comunidades do Complexo do Lins invadidas pelas forças federais em uma megaoperação. O que se viu foram muitos holofotes e imprensa para divulgar resultados pífios. Em um ano de ocupação na Maré, não prenderam nenhum chefe do tráfico ou conseguiram estancar a entrada de armas e drogas.
A pergunta é: quando vão ocupar a periferia com cultura, educação, saúde e saneamento básico? Desde que me entendo por gente, a tática e as justificativas são sempre as mesmas. O imediatismo e a urgência de resultados cegam as chamadas “pessoas de bem” que apoiam incondicionalmente esse tipo de ação, principalmente os moradores de classe média da Zona Sul. No fim, quem morre e é atingido é o povo pobre e preto.
O que eles chamam de guerra às drogas eu chamo de caça aos favelados.