Nesta tarde de terça-feira (31) aconteceu o último julgamento do caso de Gustavo Nobre, acusado de ter roubado um carro, e cuja única prova foi um reconhecimento através de uma foto. A mesma nunca foi vista, não havia câmeras registrando, e Gustavo, além de não ser autorizado a se defender, foi preso em Setembro do ano passado e só ganhou sua liberdade hoje (31).
De acordo com o levamento inédito feito pelo Condege, 83% dos presos injustamente por reconhecimento fotográfico no Brasil são negros. Isso cria base para se pensar o caso de Gustavo e a forma desigual como foi conduzido. A família já havia fornecido uma série de provas de que o rapaz não estava no local no dia do crime, testemunhas prestaram depoimento a seu favor, a foto que o condenou nunca foi divulgada, e ainda assim, o pesadelo perdurou por 363 dias, quando estava prestes a completar um ano.
O crime aconteceu em 2014, e neste mesmo dia e horário, Gustavo e sua família estavam em uma missa, no bairro de Laranjeiras, em memória a um amigo de infância seu que tinha falecido recentemente. Em 2 de Setembro do ano passado, uma equipe de policiais chegou em sua casa pedindo para que o mesmo comparecesse à delegacia. Ele se encaminhou até o local junto a sua mãe, e desde então não voltou mais para casa, tendo sido levado ao presídio Romeiro Neto, em Magé.
Gustavo, que não apresentava antecedentes criminais, não foi ouvido, foi condenado à primeira instância, com 3 votos contra, em seguida à segunda instância, com 3 votos a favor, chegando à revelia.
Hoje ocorreu o julgamento final que resultou no voto do desembargador a favor do réu, e frisou novamente a falta de provas com que foi condenado, a ausência da suposta foto e a inexistência de qualquer prova que sequer apontasse para sua condenação.
Manifestação por justiça
Na noite desta segunda-feira (30), manifestantes se uniram à família e amigos de Gustavo, que é conhecido como Gugu, para prestar solidariedade e dar um último grito juntos para que a justiça fosse feita.
A concentração foi na praça do Largo do Machado, e o clima era de esperança, mas também de muita angústia e revolta.
Manuela Vitoria, sobrinha de Elcy Leopoldina, que é mãe do Gustavo, contou que a avó do rapaz, que foi quem o criou, faleceu de AVC após saber a notícia.
Segundo depoimentos de Elcy, ele relatava em cartas e em suas visitas, que a experiência que estava vivendo era algo “muito além de não ser fácil”, descrevendo cenas como um homem sendo queimado e outros gritando pedindo pelas mães.
Gustavo passou por tudo isso e muito além do que se pode imaginar, sem ter feito nada.
Esse “erro” da justiça tomou quase um ano de sua vida, e como dizia em um dos cartazes levantados ontem: “quem irá devolver o tempo perdido dele?”.
A palavra da vítima foi a única que valeu, contra uma série de provas e testemunhas a favor da inocência de um homem negro. Não existem coincidências ou acasos; as pesquisas escancaram a justiça racista, burguesa e elitista que segue tirando as oportunidades dos jovens negros.
A pergunta que fica é: até quando?
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