28 de novembro. Para cinco famílias da Zona Norte do Rio de Janeiro, essa data tem significado, por cinco anos, mais do que apenas um número. Em 2015, neste mesmo dia 28, cinco jovens com idades entre 16 e 25 anos foram assassinados por policiais que dispararam 111 tiros de fuzil e revólver contra os rapazes.
Quatro policiais militares do 41º Batalhão, em Irajá, também na Zona Norte, foram acusados pelo crime: Thiago Rezende Viana Barbosa, sargento Marcio Darcy dos Santos, soldado Antônio Carlos Gonçalves Filho e o cabo Fábio Pizza Oliveira da Silva. Atualmente, apenas Fábio está absolvido, os outros três foram condenados a mais de 50 anos de prisão.
28 de novembro de 2015
No fim da tarde de sábado, Wilton Esteves Domingos Júnior, Roberto de Souza Penha, Carlos Eduardo da Silva de Sousa, Wesley Castro Rodrigues e Cleiton Correa de Souza, tinham ido ao Parque Madureira comemorar o primeiro salário de Roberto. Eles estavam em um Palio branco, dirigido por Wilton, e vinham acompanhados de Wilkerson, irmão de Wilton, de moto com seu amigo Lourival na garupa.
Na volta para casa, no Morro da Lagartixa, no Complexo da Pedreira, em Costa Barros, Zona Norte carioca, foram surpreendidos pelos tiros na lataria do carro, na Estrada João Paulo, em Costa Barros. O grito de “não atira, é morador!”, foi escutado por pessoas que estavam próximas ao local. Súplica que não foi ouvida pelos policiais, que atiraram 111 vezes contra cinco jovens negros que apenas voltavam de uma comemoração. Wilkerson e Lourival conseguiram escapar.
Os quatro policiais envolvidos foram presos no dia seguinte ao crime. Meses depois, foram soltos por conta de uma liminar do Superior Tribunal de Justiça (STJ). Porém, a pedido do Ministério Público Estadual, voltaram à prisão preventiva em agosto de 2016.
Auto de resistência x perícia
Em depoimento, os policiais afirmavam que a ação estava caracterizada como auto de resistência, pois havia acontecido uma troca de tiros. Falas que foram amplamente descartadas pelo laudo da perícia e pelo depoimento de testemunhas.
De acordo com o laudo, foram disparados 81 tiros de fuzil e 30 de revólver, desses, 63 tiros acertaram a lataria do carro e 40 atingiram a região das costas dos jovens. A perícia atestou também que todos estavam desarmados e nenhum disparo saiu do carro.
Além disso, testemunhas afirmaram que um dos agentes havia colocado um revólver próximo a um dos meninos, modificando a cena do crime. Márcia Ferreira, mãe de Wilkerson e Wilton, foi uma das que viu a cena. “Vi um PM que estava debaixo do carro com uma arma na mão. Logo ao me aproximar me dei conta de que ele havia deixado a arma justo debaixo da roda do motorista, para simular um confronto”, disse ao policial responsável pela investigação.
Condenações
Em 2019, aconteceu o julgamento de três dos quatro policiais envolvidos. O sargento Márcio Darcy dos Santos e o soldado Antônio Carlos Gonçalves Filho também foram condenados à 52 anos e seis meses de prisão. Os dois perderam o cargo público.
Além disso, Antônio foi condenado a oito meses e cinco dias de detenção por fraude processual, por ter alterado a cena do crime. Ambos estão no presídio da Polícia Militar em Niterói, na Região Metropolitana no Rio. Fábio Pizza Oliveira da Silva foi absolvido.
No dia 13 de novembro de 2020, aconteceu o julgamento do PM Thiago Rezende Viana Barbosa. Thiago foi condenado aos mesmos 52 anos e seis meses de prisão, além de também ter perdido o cargo público.
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