Foto: Janice Morais.                                                                                                                                                  Foto: Janice Morais.

A segunda noite do Rock In Rio 2015 foi dedicada ao Heavy Metal. A primeira banda a subir no palco Mundo foi o Gojira. Quem pensa que esse estilo prima somente pelos metais, deixando o conteúdo das letras em segundo plano, comete um erro, pois a banda francesa, formada em 1996, é conhecida por seus temas ecológicos.  O Royal Blood fez a segunda apresentação da noite no palco principal sendo os mais jovens a tocar num dos templos mais importantes da música mundial. O grupo foi formado em 2013 pelo baixista/vocalista Mike Kerr e o baterista Ben Thatcher e, apesar de tão recente, recebeu elogios do lendário Jimmy Page, do Led Zeppelin, além vencer o British Awards de melhor grupo britânico de 2014.

Os californianos do Mötley Crüe entraram na sequência. A banda, conhecida pelas polêmicas com drogas e a policia, realiza seu último tour internacional  e seus integrantes prometem que no fim do ano a banda vai se desfazer. Será?

O público que foi ao Rock In Rio na noite de ontem (19/09), em sua maioria, estava ávido pelo show da noite: o Metallica, banda norte-americana que nasceu em 1981 antes do Rock In Rio. O vocalista James Hetfield e seus companheiros (Lars Ulrich, Kirk Hammett e Robert Trujillo) levaram os cerca de 100 mil presentes ao delírio.  Com nove álbuns gravados, mais de 110 milhões de discos vendidos, nove Grammy Awards, o Metallica entrou para o Rock & Roll Hall of Fame em 2009 e o seu “The Black Album”, de 1991, já vendeu quase 30 milhões de cópias em todo mundo.

Ainda que a apresentação da banda tenha sido interrompida três vezes por problemas no som, os metaleiros da Califórnia não deixaram de proporcionar uma noite memorável aos fãs.

O som massivo e encorpado, surgido no inicio da década de 1960 nos Estados Unidos e na Inglaterra, não só criou uma linguagem com tons menores, mas conferiu uma atmosfera sombria às músicas. No som distorcido dos amplificadores, os metaleiros vociferam seus descontentamentos com a mesmice da vida. A roupa preta serve como protesto, como forma de diferenciar da paixão mórbida que faz a vida ser insossa em valores, os metaleiros são destemidos porque a vida só faz sentido nos acordes graves de seus ícones como Led Zeppelin, Deep Purple, Black Sabbath, Judas Priest, Motorhead, Iron Maiden, Mötley Crüe e Poison, Anthrax, Megadeth, Slayer, Kiss, Metallica, Sepultura, Attomica, Angra, Sarcofago, entre outras. Num primeiro olhar, ainda que despercebido, podemos achar que um grupo de metaleiros com blusas pretas estampadas com suas bandas favoritas, jeans azul, botas de couro, pulseiras, cabelos longos pode parecer uma ameaça à paz criada no conforto de nosso virtual mundo do faz de conta.

Os metaleiros se vestem dessa forma para simbolizar todas suas angústias e seus desencantamentos porque sabem que moram num lugar, mas não habitam no mesmo sádico espaço de tempo, cores e sons dos outros. Os metaleiros são esteticamente diferentes porque o som suave da vida não vibra com o que eles querem. E o que eles querem? Um mundo que não se acomode com o silêncio da paz criada num discurso onde a vida é mera representação de regras e valores. Heavy metal é luto e luta contra um mundo que vive de ilusões. Heavy metal é pauleira em nossas cabeças ocas, em nossas cabeças loucas. Viva a diversidade de tons, sons, e dons. E o melhor de tudo é saber que os metaleiros têm o dom de nos fazer ver o mundo noutro tom de alegria e magia.

Para quem mora nas favelas, eis uma  ótima lição que se pode extrair dos metaleiros.  Quando ouvirmos os sons do metal da morte vindo dos tiros de fuzis ao traçarem nossas estreitas ruas não se  acovardem.  Temos que distorcer o som com nossos descontentamentos e colocarmos para fora todos nossas angústias com sons graves para dizer para o mundo que o metal que queremos é o som eletrizante das guitarras, que o barulho que nos faz bem é do atabaque e não do ataque de caveirão, que nossa emoção quer sentir o peso do bateria de banda de rock e não de um silêncio entristecedor ante às tenebrosas injustiças.

Musicar a vida é fazer com que o mundo seja mais harmonioso, seja mais humano e para isso precisamos valorizar mais a estética da vida e não da morte.

Viva o Rock! Viva o Metal! Viva a diversidade! Viva a Cultura!