“O general Heleno está com a faca e o queijo na mão”, orgulhou-se um bolsonarista na tarde desta sexta-feira em conversa entre conspiradores. “General Heleno é quem vai ficar no poder. O presidente precisava sair do Brasil, agora o Exército tomará conta”, escreveu uma administradora do grupo “Patriotas bolsonaristas unidos – Deus, Pátria, Família e Liberdade” no Telegram”, reportou Malu Gaspar em seu blog no Globo. Ao que parece, o general é a bola da vez.
Mas as aparências enganam, Augusto Heleno está na cena política há muitos anos, décadas, sempre na defesa da ditadura e dos golpes antidemocráticos. Basta lembrar que, no meio militar, foi grande defensor do impeachment e escreveu textos por vezes vetados pelos superiores por excesso de anticomunismo – se isso é possível nesse meio. Com certeza, Heleno não concorda com o julgamento, é filho dileto da linha de pensamento ideológico radical conservadora que deu o golpe de 1964 e ficou 21 anos no poder.
Em 1977 mandava no país era “O Alemão”, como era referido o general Ernesto Geisel, gaúcho rígido como poucos. Seu ministro da Guerra (correspondente ao atual comandante do Exército) era o general Sylvio Frota, contrário à política de distensão lenta, gradual e segura recém-iniciada por pressão a sociedade insatisfeita com o desastre econômico que vinha desde a crise internacional do petróleo, a partir de 1971.
Sylvio Frota passou a chamar Geisel de esquerdista e preparou, inclusive, uma lista de 97 comunistas no governo. Iniciativas deste naipe se acumularam na mesa de Geisel, até que um dia, e setembro de 77, deu um bote e demitiu Frota, que saiu do Planalto tentando um contragolpe, mas seus possíveis aliados estavam nas mãos de Geisel.
Augusto Heleno era o Ajudante de Ordens de Sylvio Frota, seu homem de total confiança no Exército, pau pra toda obra, desde carregar a maleta a acompanhar o ministro em despachos externos e viagens a serviço. Este é o homem com quem o país lida no momento, ele é a esperança dos golpistas e com toda certeza seu currículo contém experiência suficiente para liderar a virada em andamento. Heleno deve ter aliados preparados para dar o bote. A dúvida é se o general Júlio César Arruda está preparado para evitá-lo.
