Hierarquias Raciais: metodologias antirracistas

Créditos: divulgação

Reflexões sobre entrevistas narrativas e a necessidade de protocolos próprios para pesquisas com sujeitos subalternizados, foram apresentadas por Renata Dias, Baiana e Doutoranda sobre meios e processos audiovisuais. A apresentação fez parte de uma oficina voltada para a discussão sobre a pessoa negra e a entrevista narrativa, tendo como tema central a construção de metodologias antirracistas e anticoloniais na pesquisa científica em comunicação.

As reflexões aconteceram nesta sexta-feira, em Balneário Camboriú (SC), no 47ª Edição do Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação (Intercom). Renata Dias, é doutoranda pela Escola de Comunicação e Artes da USP,

O trabalho apresentado por Renata tem como base sua experiência acadêmica, especialmente a pesquisa realizada no mestrado, quando investigou as vivências de três baianas de acarajé de Salvador, Cachoeira e Vitória da Conquista. Esse estudo trouxe à tona a questão das hierarquias raciais presentes na produção de dados científicos e o uso de metodologias que muitas vezes não correspondem às realidades dos sujeitos pesquisados.

Renata argumenta que, ao investigar as narrativas de mulheres negras, é fundamental questionar os métodos adotados e propor alternativas que sejam sensíveis às suas vivências e subjetividades.

Segundo Renata, os protocolos metodológicos importados, como o de Schutz, falham ao lidar com sujeitos historicamente marginalizados, especialmente mulheres negras. “Vim discutir metodologias de investigação com propósitos antirracistas. Vim discutir isso em função mesmo da minha experiência durante o mestrado”, ela afirmou.

Durante sua pesquisa, Renata foi orientada a seguir um protocolo que exigia pouca interferência nas entrevistas, deixando as entrevistadas falarem livremente por longos períodos. No entanto, ao aplicar esse modelo com as baianas do acarajé, percebeu que ele não funcionava adequadamente.

“Essas mulheres quase não têm fala, né? Elas são capturadas pelos discursos do turismo, pela propaganda, no aeroporto, mas ninguém vê a baiana falando, vê ela dançando, vê ela distribuindo fitinha do Bonfim, vê ela carregando a quartinha”, explicou. Renata destacou que seguir o protocolo de entrevistas narrativas com perguntas amplas não era viável para capturar a profundidade das experiências dessas mulheres. O desafio era ir além do que o modelo importado oferecia e criar um espaço onde as vozes das entrevistadas pudessem emergir de forma genuína.

Com essa percepção, a pesquisadora decidiu adotar uma abordagem mais dialógica, que envolvesse uma interação constante entre pesquisadora e entrevistada. “Eu sou sujeita e compreendo aquela sujeita, então só em desarmar essa relação sujeito e objeto a gente já cai no outro paradigma do ponto de vista metodológico”, pontuou Renata. Ao romper com essa relação tradicional de sujeito e objeto, a pesquisa passou a abrir espaço para a construção de uma narrativa colaborativa, em que as vivências das baianas de acarajé eram reveladas de maneira mais rica e detalhada.

Renata defendeu a criação de novos protocolos para a pesquisa com populações subalternizadas, em especial no campo da comunicação. Para ela, é urgente que os pesquisadores latino-americanos desenvolvam metodologias próprias que dialoguem com as realidades locais, rompendo com a dependência de modelos estrangeiros que não consideram as especificidades dos sujeitos pesquisados. “A ciência e o método científico têm uma aplicação universal, mas acho que a importância do que venho discutir está nesse lugar, da gente debater metodologia científica aplicada a pesquisas em comunicação que tenham propósitos antirracistas, que tenham propósitos anticoloniais”, destacou.

A oficina de Renata Dias, portanto, não apenas propôs uma reflexão sobre a forma como a pesquisa acadêmica tem sido conduzida, mas também lançou luz sobre a necessidade de práticas científicas mais inclusivas. 

Ao adotar uma abordagem crítica às metodologias tradicionais, ela aponta para a importância de revisões nos procedimentos de investigação, especialmente quando se trata de sujeitos historicamente silenciados. A contribuição de Renata reforça o papel da pesquisa acadêmica na promoção de uma ciência comprometida com a justiça social e o reconhecimento das vozes marginalizadas.

@renatadiasedias

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