Desde o último ano de 2020 e o surgimento da pandemia no mundo que muitas estruturas sociais foram e continuam se modificando. Os trabalhos, as ocupações humanas, não escaparam desse processo. Com o isolamento social, a diminuição de pessoas circulando nas ruas, e estabelecimentos sendo fechados, as demandas se modificaram, tudo teve que ser repensado, e os profissionais de cada área também tiveram que fazer o mesmo.
Empresas com grandes escritórios tiveram que modificar seu funcionamento para o modelo de “Home Office”, ou no bom e velho português, trabalho em casa. Reuniões passaram a ser feitas online, decisões importantes agora são tomadas à distância, e todas as profissões, mesmo que em níveis diferentes, sofreram algum tipo de impacto.
O índice de pessoas sem emprego se mantém crescente, em um recorde histórico de 14,4 milhões de desempregados no período de Dezembro de 2020 a Fevereiro de 2021, um aumento de 2 milhões comparado a um ano atrás. Esse fato fez com que surgissem novas medidas de auxílio emergencial aos setores mais prejudicados pela pandemia, como o setor Cultural, onde os fazedores de cultura afetados pela crise recebem aporte financeiro através da Lei Aldir Blanc.
Como já é sabido, os recursos não chegam a todos que precisam, e de acordo com os territórios em que se vive, as oportunidades ficam ainda mais escassas. Muitas famílias estão sem o que comer, sem ter dinheiro para comprar gás, e sem perspectivas para um futuro; com destaque para o fato de que o Brasil retornou, depois de muito tempo, ao mapa da fome. Todas essas questões mexem em vários lugares da população, dando origem a inseguranças, depressões, ansiedades e urgências internas e externas.
Aqueles que lutam para se manter ativos em sua área de atuação estão sofrendo com a necessidade de terem que se adaptar dentro desse cenário. Ainda no setor cultural, inúmeras casas de espetáculo foram fechadas, e os profissionais autônomos, que segundo pesquisa do Ipea, foram os que mais sentiram os impactos financeiros, precisam agir e buscar por conta própria soluções e parcerias.
Música na Janela
O músico Diogo Acosta contou à Agência de Notícias de Favelas (ANF) o quanto foi e ainda é difícil para artistas viver esse momento e ter que se reinventar para continuar fazendo aquilo que ama.
— A pandemia foi um baque muito forte na minha carreira profissional, porque eu trabalho diretamente com “aglomeração”, então todos os meus shows e eventos foram cancelados, em um período a longo prazo. Isso mexeu muito comigo no lado financeiro e na alma, então me peguei nesse momento refletindo sobre o que iria fazer.
A motivação com o tempo vai se perdendo. No início comecei a produzir conteúdos online, o que me trouxe retorno, mas depois foi ficando escasso porque a interação exclusivamente online não supre as necessidades de troca.
Em seguida, Diogo comenta sobre a demanda profissional que deu origem a um novo projeto, que traz significado e cria possibilidades de interação pela música.
— Houve um momento em que recebi um convite da madrinha de um casamento que tinha acabado de acontecer, para tocar embaixo da janela do casal. Essa ação foi emocionante e me trouxe novamente a conexão com as pessoas. Reacender essa chama me fez iniciar o projeto que chamo de “Música na Janela”, onde toco embaixo das janelas das pessoas. Elas me contratam para levar um pouco de alegria. Já estive em datas especiais como aniversários, o retorno de pessoas que ficaram internadas em razão do causa do covid-19, outras que celebram por se vacinarem, e inclusive homenagens solidárias para pessoas que estão sofrendo com a perda de alguém.
A pandemia fragilizou ainda mais as relações de trabalho, tornando as oportunidades, que já eram poucas, ainda menores. O que isso gera é uma sociedade que precisa de cuidado e de atenção, assim como expõe também a força da solidariedade do povo, que todos os dias arregaça as próprias mangas e faz aquilo que o poder público não faz, chegando a lugares em que o Estado é ausente. Esse povo encontra momentos de respiro em espaços como a arte, que tem a capacidade de transformar a realidade e criar novas formas de se viver com os conflitos.
“Diante do momento difícil que estamos vivendo, distantes uns dos outros, poder levar a música para as pessoas e tocar nas ruas, me mostra principalmente o valor da arte, tanto pelo lado do artista quanto do outro lado, de quem está recebendo a arte, de perceber o quanto ela é preciosa e pode salvar momentos”, afirma Diogo.
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