Hoje é o dia dos pais. No meu peito, hoje é dia de saudade, dia de lembranças de tempos alegres, descompromissados, ingênuos, felizes. Tempos de tomar muito sorvete, de beber Grapete, andar na beira da praia numa época de encantos, acreditando que o dia sempre vai nascer lindo; época de escola, deveres, brincadeiras de rua, alegria infinita.
Por morar perto do mar, o melhor passeio era sempre em direção a ele: tomar banho na praia do Bogari ou ir passear na direção dos Tamarindeiros, depois da Igreja de Nossa Senhora da Penha. Ali surgia uma grande área beirando a praia repleta de pés de tamarindo. Havia época em que estavam carregados e era a alegria geral. Eram tantos que dava para levar para casa e fazer doce. O local estava sempre cheio e, por ter muitas árvores, era escolhido por famílias para passar o dia. O cheiro de peixe frito se misturava ao de tamarindo.
Andando sem pressa, continuava em frente, passando pelo terminal de ônibus até a altura da rua principal do bairro. Margeando a balaustrada, vinha o cais das barcas, que levavam passageiros para o outro lado da baía, Paripe e Piripiri. Passava pelo largo da Ribeira, bairro onde eu morava em Salvador. A sorveteria era parada obrigatória. Depois, rua do Fogo e logo após o prédio onde morava o meu avô, pai do meu pai, juiz de direito. O Conselheiro Manoel Mattos Corrêa de Menezes, como era chamado, morou ali até morrer; conheci meu avô bem velhinho, cabelo branquinho como flocos de neve, olhos ativos, lia muito, vivia de pijama entre os livros. Era um homem doce.
Na frente do prédio, sentado na balaustrada, sempre estava o meu pai: alto, magro, de uma elegância discreta, sempre de terno branco, camisa colorida, cigarro na boca e uma linha de pesca na mão. Além do jogo de buraco com os amigos, pescar era a sua maior diversão. Enchia o congelador, para desespero da minha mãe, de baratinhas do mar que usava como isca. Era um homem gentil, aposentado, que gostava de passar o tempo pescando e conversando com quem puxasse assunto com ele. Era sempre solícito e amoroso, companheiro e grande amigo. Sinto saudade da sua fala doce e alegre, do seu humor, da leveza com que encarava a vida e a capacidade de estar aberto para o novo. Há um amor inenarrável envolvido nessas lembranças.
Hoje, observo meus filhos – agora pais – e vejo como a referência do meu pai foi fundamental para que eu tivesse buscado ser amiga dos meus filhos e eles multiplicassem isso com os meus netos. Observo neles o mesmo amor, cuidado e proteção com suas crias na mesma intensidade e com o mesmo respeito que o meu pai me oferecia. Torço para que eles estejam sempre abertos para ouvir seus filhos e se aproximem de suas vidas, que sejam pontes para o futuro dos seus filhos, que os ofereçam conhecimento, garantam seus estudos, ferramenta fundamental para caminhar rumo ao novo, que os amem e respeitem o direito de escolha que cada um deles. Que sejam veículos de crescimento.
O segundo domingo de agosto é dia de saudade, mas também de felicidade extrema por ter tido a chance de ter um pai, um companheiro amoroso que me ofereceu uma infância alegre, uma juventude divertida, cheia de descobertas. Com ele, aprendi o significado da palavra “respeito”: o respeito pelo outro, pelo seu igual, pelo seu diferente, respeito pela vida. Com ele aprendi que o amor é simples e curativo, que possui leveza, que é repleto de esperança, que é princípio, meio e fim.
Desejo a todos os pais um dia seja alegre e feliz, que todos possam ser referência de força, de capacidade, de resistência, de conhecimento, mas também de amor, de respeito, de carinho, de compartilhamento, de tolerância, elementos fundamentais para a formação de mulheres e homens, capazes, corretos e felizes.