Homenagem aos escritores colaboradores da ANF

A Agência de Notícias da Favela (ANF) parabeniza e agradece aos escritores, Anderson Shon, Gilvâ Mendes, Ubiraci Santos e Valdeck Jesus, que integram a equipe de colaboradores, desempenhando um papel fundamental na produção de conteúdo para a ANF.

Nesta terça-feira, 25 de julho, o Brasil celebra o Dia do Escritor, uma data especial que destaca a importância dos escritores e da literatura brasileira. A data foi estabelecida em 1960 pela União Brasileira de Escritores (UBE) em homenagem a Machado de Assis, um dos maiores nomes da literatura nacional.

Neste ano aconteceu o Primeiro Festival do Escritor Brasileiro, organizado pela União Brasileira dos Escritores em 1960, criou um dia nacional dedicado à visibilidade ao trabalho de nossos escritores.

Os escritores Gilvan Mendes e Valdeck Jesus, falam sobre suas trajetórias literárias, apresentam suas obras, com o de encantar, ensinar e transformar a sociedade por meio de suas palavras. Eles mostram também que a diversidade é fundamental para a construção de uma sociedade mais justa e inclusiva e que utilizam a escrita como uma ferramenta na luta pela igualdade e justiça social.

Conheça um pouco dos escritores.

Gilvã Mendes, 38 anos, nasceu no bairro Nordeste de Amaralina, em Salvador, Bahia. Formado em Psicologia com especialização em Psicologia Clínica. Atualmente, reside em Lauro de Freitas, município da Região Metropolitana de Salvador. “Uma cidade que em termos urbanísticos e de acessibilidades nunca me acolheu”, afirma Gilvã. 

Valdeck Jesus, 57 anos, nasceu na cidade de Jequié, Bahia. Jornalista com experiência em diversas mídias, incluindo impresso, TV, rádio e mídias sociais. Atualmente, reside em Vitória da Conquista, também na Bahia.

A trajetória literária até se tornar escritor.

GM, desde suas primeiras lembranças de infância, ele sempre dizia: “Um dia, vou escrever um livro”, mesmo sem ainda saber ler e escrever. Mas, foi na adolescência que eu tive a certeza de que se seria um escritor, porque descobri que através da escrita podia mostrar-me além da sua cadeira de rodas e da sua deficiência”.

VJ relata que o processo de se tornar um escritor foi um caminho de descobertas: “Escritor”, propriamente dito, é um processo para alguém se descobrir, se aceitar, se identificar. Até hoje ainda me sinto um aprendiz da escrita. 

Entretanto, comecei a escrever mentalmente quando minha mãe contava histórias infantis, aos seis, sete anos, em Jequié, onde nasci. Aos doze eu já ensaiava alguns versinhos, e aos 18 tive um poema publicado na antologia “Poetas Brasileiros de Hoje – 1984”, organizada por Cristina Oiticica, esposa de Paulo Coelho. 

Para a publicação e compra de dez exemplares, precisei vender o único bem da família, um fogão de duas bocas. Dali em diante, fui impulsionado e incentivado a continuar escrevendo e não parei mais.

Qual a importância da escrita na sociedade? 

GM “Eu acredito muito que na autoimagem e autoestima de meninos e meninas pretos, periféricos e com algum tipo de deficiência. Quando, eu, estudante, muito atrasado nos estudos (não por culpa minha ou da minha mãe, mas, da exclusão!) Negro, pobre, adolescente com deficiência e sem muitas perspectivas de futuro, olhava ao meu redor, me desesperava, porque não via ninguém semelhante a mim”. 

“Hoje, eu posso ser essa referência para meninas e meninos como eu fui um dia. Porém, compreendo que não quero nem posso ser um modelo universal, único e absoluto, porque as pessoas têm individualidades, especificidades e potencialidades diferentes, só pretendo dizer com a minha escrita, que mesmo difícil, há um caminho existente e viável”, 

VJ “Minha escrita toca nas feridas sociais: homofobia, racismo, fome, violência policial, machismo etc. Estas publicações impactam diretamente a quem lê, proporcionando uma visão crítica da vida, transformando politicamente a postura dos leitores. E estimulam a cada um/a também colocar no papel suas denúncias, frustrações, sonhos e amores. A literatura não muda o mundo, como já disse algum poeta, mas desperta nas pessoas o desejo de mudança”.

Quais são as obras escritas e publicadas? 

Autor Gilvã Mendes 

Queria brincar de mudar meu destino (2009, Papirus Editora)

Aqueles malditos olhos azuis (2019, independente) 

O pássaro de duas cabeças (2022, Papirus Editora – Guaxinim) 

Intenso, Louváveis e Ternos Amores em Poemas (2022, independente)


Autor Valdeck de Jesus 

Memorial do Inferno. A Saga da família Almeida no Jardim do Éden (2005)

Como escrever, publicar e divulgar um livro (2012)

Sim, sou gay. E daí? Desabafos de Alice no País das Maravilhas. (2013)

Gay-roto de Programa: 5000 tons de sexo. (2014)

Trilhos da minha trilha (2018)

A escrita é uma profissão ou um hobby?

GM “Obviamente, uma profissão. Cruel e infelizmente, no nosso país, a carreira literária de modo geral, é muito subestimada, mas, principalmente, para pretos, periféricos e para as pessoas com deficiência é quase inexistente!  

Mas, nós seres humanos temos uma necessidade meio que biológica de escutar, viver histórias alheias para suportar a realidade! Alguém conhece uma pessoa que não gosta de novelas, ou de filmes, ou de séries, ou de teatro, ou de músicas, ou de telejornais? Tudo isso nasce da escrita! Dá para imaginar um mundo sem tudo isso?

Eu não posso bater uma laje, dirigir um carro nem realizar uma cirurgia. Porém, deixar a minha alma falar e gritar, e depois digitar, eu posso! Além de ser uma necessidade existencial, escrevo também, porque tenho que pagar contas, embora, a maioria das vezes não dê nem para comprar um pacote de sal com a literatura!

VJ “A escrita para mim é um hobby e uma profissão. Ainda não ganho suficiente do que escrevo, mas pretendo, este é um sonho acalentado por muitos anos. E também um hobby, já que além da militância, eu também faço poemas e incentivo outros/as autores/as na arte da escrita, o que me dá muito prazer e proporciona encontros, viagens, laços afetivos e muita alegria”.