Key Ko

Esse fim de semana as ruas do Rio de Janeiro foram invadidas por dezenas de fanfarras que tocaram pela cidade por causa do Festival de Fanfarras Ativistas. Espaços públicos como a Praça 15, Praça da Harmonia, Santa Teresa, Lapa, Praça Tiradentes, Morro do Alemão, Praia de Ipanema e Arpoador foram o palco das apresentações que arrastaram milhares de pessoas às ruas em cortejos inesquecíveis. Fanfarras brasileiras e estrangeiras brilharam pelas ruas da cidade. Tive a felicidade de fazer parte da produção do festival, e esse foi um dos motivos de ter atrasado meu texto dessa semana.

Uma das coisas que notei, foi que a maioria do público era de pessoas da zona sul e não notei pessoas de comunidades ou da periferia. Um fato que sempre achei curioso era porque nossas festas não atraem o pessoal das favelas? Como a gente faz para que esse povo se sinta bem nessas festas? Pensando nisso, o festival inovou e programou duas fanfarras para se apresentarem no Morro do Alemão. A Hey Ho! Brass Band e Os Biquines de Ogodô Convidam As Sungas de Odara, tiveram a missão de levar a alegria do festival ao morro. E foi uma das experiências mais incríveis que tive a oportunidade de participar. Não sabíamos qual seria a reação dos moradores. Fomos recebidos pelo pessoal da ONG Serra da Misericórdia e logo de cara sentimos como é a realidade de viver numa favela “pacificada”. Policiais fortemente armados, transitando pelo morro com cara de poucos amigos. Aconteceu um fato que nós do festival ficamos abismados. Éramos um grupo de cerca de 30 pessoas com instrumentos musicais, estandartes e fantasiados. Nisso uma viatura da PM subia a ladeira e o policial que estava no banco da frente, nos apontou uma pistola ameaçadoramente. Sim apontou direto para nossa direção. Ficamos estupefatos ao ver como é o cotidiano dos moradores do Alemão. Mas passada a revolta, nos encaminhamos para o alto do morro para nosso cortejo.

Foi sensacional trocar o cenário das praias e praças, pelas vielas e escadas do morro. Os moradores olhavam atônitos pra aquele monte de malucos fantasiados. Fomos descendo e tocando e um séquito de crianças nos acompanhava. As vezes a gente parava na frente de uma birosca para uma performance, e fomos muito aplaudidos. Depois do cortejo da Hey Ho, voltamos pra sede da ONG e iniciamos o show do Biquinis de Ogodô. Como sugere o nome, esse é um bloco que os músicos ficam em trajes de praia. E um morador ao ver a galera de maiôs e sungas, arrumou uma mangueira e fizemos um show aquático com direito a banho de mangueira em todo mundo. Inclusive as crianças que interagiram com a gente o tempo todo. Foi lindo demais o festival todo, mas nossa visita ao Alemão, foi uma experiência inesquecível! Tomara que esse tipo de intercâmbio, morro e asfalto prossiga e aproxime mais os moradores dessa cidade.