Horta comunitária e alimentação saudável é possível sim

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Diante de um ritmo tão frenético que se vive, onde o dia parece não ser suficiente para dar conta de tantas responsabilidades, a alimentação é algo que não é levado a sério, perante a importância que exerce, seja para aquelas pessoas que fazem suas refeições em casa ou na rua, vários fatores, entre eles, o educacional e financeiro que influenciam diretamente para se ter uma alimentação adequada ou não.

Se não conseguimos plantar aquilo que precisaríamos ingerir, ficamos reféns de alimentos que em muitos casos provocam mais problemas de saúde do que uma boa qualidade de vida para nosso corpo, físico, mental e espiritual, e isso ocorre desde a primeira infância até a terceira idade.

Para entender como podemos mudar os hábitos alimentares proporcionando uma melhora significativa na saúde, o reaproveitamento de alimentos para evitar desperdício e também como utilizar espaços urbanos para um plantio sem agressão ao meio ambiente, vamos conversar com quem domina o assunto, a pessoa em questão é o agricultor orgânico Rodrigo Kauka.

Rodrigo, 41 anos, pai de 3 filhos, casado, além de agricultor também é educador, vai nos nutrir de informações sobre como aproveitar os espaços urbanos, seja em casa ou nas praças comunitárias, para um plantio sem agrotóxicos e podermos reelaborar nosso cardápio de maneira que venha contribuir numa vida longínqua e saudável através do consumo e ingestão de alimentos naturais.

Créditos: arquivo pessoal

Quer aprender como plantar na selva de pedra e melhorar sua qualidade de vida? Então repare nessas dicas importantes que Rodrigo apresenta nessa saborosa entrevista que ele concedeu.

Qual a diferença entre horta rural e urbana? 

Logo de cara, espaço é o fator que mais chama atenção entre as diferenças. Nesse caso a verticalização dos espaços de manejo tem sido a solução, junto com uso de terraços e ocupação de terrenos “baldios”, praças, hortas comunitárias etc. O tempo de dedicação a uma horta não parece estar nos planos de prioridade de quem habita nos centros urbanos, então também pode ser um fator diferente nesse contexto.

Quais as dificuldades para ser um agricultor orgânico?

“Tem que ser selada, avaliada, rotulada, carimbada, se quiser voar” A primeira delas é não ser reconhecida, no sentido de ser propagada como essencial para o mundo em que vivemos hoje. Se trata de alimentos que nutrem as potencialidades de desenvolvimento dos seres e do meio em que vivem na terra. Portanto o  capital especulativo do agronegócio, visando o lucro em detrimento da vida, cria essa barreira de disseminação do que de fato é alimento sem veneno. Então é uma briga de Davi contra Golias. O que torna a empreitada desafiadora, mas acompanhada da realidade que de fato nos faz bem. Fazem crer que o custo beneficio é impossível dos alimentos orgânicos,  quando na verdade querem dizer que terão menos lucros se a ideia de manejo seguro do solo e das culturas forem atribuídas também a questão da reforma agrária. Outro fator dificultante é ter que certificar os produtos como orgânicos. Numa lógica contaria do mercado (privado e estatal) capitalista, o produtor orgânico é quem tem que provar, certificar seu produto como podendo ser utilizado sem restrições. O produtor que é capaz de cometer essa atrocidade contra a humanidade, usar veneno pra obter lucro, fica isento do tribunal impositivo que o agricultor orgânico é submetido.

Como identificar um alimento que foi cultivado sem uso de agrotóxicos? 

A certificação orgânica é o que “legitima” um produto que respeita as normas de manejo responsável com o meio ambiente. Nas feiras dos interiores com a agricultura familiar,  e até mesmo nas feiras livres urbanas ainda se considera a palavra como certificadora legítima de confiança entre produtor e consumidor. Haja vista que cresce o número de consumidores responsáveis e produtores engajados em diversos âmbitos de comércio que envolvem alimentos.

Muitas pessoas reclamam do auto custo do alimentos orgânicos, procede? Por quê?

A reclamação não é em vão, mas se olharmos de outro ângulo os mecanismos que envolvem a agricultura e seus dependentes entenderemos que essa mistificação da impossibilidade dos alimentos orgânicos, nada mais é do que o boicote dos vassalos do grande capital. O custo de certificação impossibilita num primeiro momento ter paridade com quem muda a estrutura natural e acelera o tempo das culturas manejadas para obter lucro imediato. No manejo orgânico a dedicação e o respeito ao tempo do que se quer colher é a grande parceria entre os seres e a natureza.

Como os agrotóxicos podem afetar a vida humana e o meio ambiente? 

Numa linha da medicina oriental, toda a doença começa no astral. Isso quer dizer que o alimento que não nutre adoece. Para entendermos melhor esse pensamento, temos que aceitar que nutrição é além de apenas alimentar o corpo físico. O alimento tem que vir carregado de forças que impulsionem o corpo material, as emoções e até uma ética (dentro do astral) conjuntamente. O documentário nacional “Muito além do peso” traz uma clareza do que vivemos hoje com relação ao alimento, de alarmar toda a sociedade comprometida com a vida no planeta. Chama atenção para doenças antes consideradas de pessoas mais idosas, acometendo crianças como alguns tipos de câncer atribuídos a má alimentação. Enfermidades diversas acontecendo de forma prematura.

Quais espaços você consegue apresentar suas habilidades como educador para falar das hortas urbanas e comunitárias? 

É unanime entre pesquisadores que tem crescido o interesse da população em geral pelo tema do alimento saudável. Até as grandes indústrias alimentícias estão tendo que se reinventar diante das demandas de exigência que tem surgido entre consumidores cada vez mais conscientes da relação direta de doenças com a ingestão de comidas envenenadas. A correria do dia a dia, entre cidadãos comuns, junto com a massiva propaganda enganadora do lobby do alimento, impossibilita vermos além das mentiras impostas. Precisamos desconstruir a ideia de que o agronegócio é “POP”, pois os alimentos envenenados tem relação direta com as enfermidades. Logo, a receptividade de quem é afetado diretamente com esse vínculo muda. Está explícito no dia a dia, nas economias com remédios, no humor, na estima, no labor.

Como a política nacional influencia na produção de produtos orgânicos? 

Influencia de maneira negativa. Existe um lobby entre legisladores, executores públicos e empresas privadas, pessoas que prezam por seus interesses, que acabam dificultando os produtores com menor poder de investimento.

O que você diria para as pessoas que pensam que desejam ser um agricultor orgânico?

Trabalhar de forma verdadeira com as potencialidades das interações no planeta é dignificante. De outra forma estaremos prezando pelas forças de destruição das vidas. A morte já é um processo intrínseco ao ser humano, então que batalhemos pela construção dos firmamentos de bondade, que é o que recebemos da Mãe Natureza.

Como você percebe a missão do educador falando sobre alimentação saudável?

Mais do que delegar ao educador a responsabilidade de falar desse tema, é termos políticas públicas em que a alimentação seja matéria prioritária no desenvolvimento da sociedade. Por exemplo, o tema nutrição deveria fazer parte da grade curricular de processos de ensino e aprendizagem.

Depois de todas essas informações que tivemos acesso através do Rodrigo, cabe a nós (re) educarmos nosso estilo de vida, ao que se refere nossa relação com a natureza, o meio ambiente e os alimentos que consumimos. Sei que ficou um gostinho de quero mais, garantimos que em breve traremos novas dicas para temperar suas ideias. Bom apetite e vamos lembrar sempre “Se o campo não planta a cidade não janta”.

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Paulo de Almeida Filho
Jornalista, Especialista em Comunicação Comunitária, Mestre em Gestão da Educação, Tecnologias e Redes Sociais - UNEB - Universidade do Estado da Bahia. Editor da Agência de Notícias das Favelas. Pesquisador do CRDH- Centro de Referência e Desenvolvimento em Humanidades - UNEB - Universidade do Estado da Bahia. Professor de Pós Graduação, em Comunicação e Diversidade, na Escola Baiana de Comunicação. Assessor da REDE MIDICOM- Rede das Mídias Comunitárias de Salvador. Membro do Grupo de Pesquisa TIPEMSE - Tecnologias, Inovação Pedagógicas e Mobilização Social pela Educação. Articulado Comunitário do Coletivo de Comunicação Bairro da Paz News. Membro da Frente Baiana pela Democratização da Comunicação. Integrante do Fórum de Saúde das Periferias da Bahia. Membro da Frente de Evangélicos pelo Estado de Direito- Núcleo Bahia. Integrante da Rede de Proteção de Jornalistas e Comunicadores Coordenador Social do Conselho de Moradores do Bairro da Paz, EduComunicador e Consultor em Mídias Periféricas.