O ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, reagiu com indisfarçável irritação à afirmação de Bolsonaro hoje, 2, à rádio Jovem Pan de que extrapolou no enfrentamento da pandemia do coronavírus e teria, em alguns momentos, que “ouvir mais o presidente da república”.
“Nunca fiz nenhum comentário sobre as ações dele. Não se comenta o que o presidente da República fala. Ele tem mandato popular, e quem tem mandato popular fala e quem não tem, como eu, trabalha”, respondeu Mandetta, ao ser provocado pela imprensa.
Esta é a primeira vez que Bolsonaro trata de forma política uma divergência dentro do ministério. Em todas as ocasiões anteriores houve demissões sumárias, ocasionalmente com humilhação. Assim foi, por exemplo, o caso de Gustavo Bebiano, primeiro ocupante da Secretaria Geral da Presidência, demitido depois de um bate-boca virtual com ele.
No episódio, ministro e presidente divergiram porque um diretor da Rede Globo foi recebido na Secretaria, no Palácio do Planalto, o que o presidente considerou “receber o inimigo dentro de casa”. Bebiano perdeu a queda de braço com Carlos Bolsonaro, foi demitido e acabou morto num enfarte fulminante no mês passado.
O atual Ministro da Saúde vive uma situação inédita entre seus pares num governo em que nem o titular da Justiça tem poder para divergir e impor sua vontade diante do presidente, em que pese seu prestígio pessoal e o trabalho desempenhado na Lava Jato para impedir Lula de se candidatar à presidência em 2018, quando era favorito do eleitorado. Agora, um Jair Bolsonaro ponderado, com palavras medidas para não melindrar ninguém, é capaz de elegância também nunca vista de sua parte:
“O Mandetta quer fazer muito a vontade dele. Pode ser que ele esteja certo. Pode ser. Mas está faltando um pouco mais de humildade para ele”. Este comportamento não guarda a mais pálida semelhança com aquele usado com o ex-deputado Jean Wyllys ou a deputada Maria do Rosário, ou ainda com diversos repórteres na cobertura diária da Câmara dos Deputados.
Na realidade, esse modo suave e delicado que foge ao padrão familiar dos Bolsonaro, parece confirmar o que opinou a deputada Janaína Paschoal em rede social depois de ver um vídeo postado pelo presidente também hoje, no qual uma pretensa professora defende a volta às aulas:
“Se o senhor não parar com essas postagens, os militares vão para a rua para retirar o senhor, com base no artigo 142 da Constituição Federal. Meu povo sofrendo e o senhor fazendo graça. Pelo amor de Deus, amadureça!”, escreveu a deputada.