Coletivos culturais do Ibura, bairro da periferia sul de Recife, estiveram reunidos na última quarta-feira (28) em um evento que discutiu o “pacote anti-crime”, a ocupação dos espaços públicos e a política nas comunidades.

A discussão que norteou o encontro teve como pautas as medidas de enfrentamento às sucessivas tentativas de desmonte dos direitos e criminalização da população negra e periférica e a necessidade de munir-se de conhecimento e estabelecer uma comunicação coletiva e integrada entre as periferias. A sede do evento foi a Praça do UR-11, uma das favelas do Ibura.

Cine debate sobre o pacote anti-crime – Foto: Junior Silva / ANF

Maria Janielly (30), representante do coletivo Periféricas e do Espaço Cultural das Marias, acredita que diante a conjuntura política que estamos, o segredo é estarmos juntos nas ações. Daí o fato de coletivos tão diversos se unirem numa ação comum. “Acredito que com essa união consigamos criar uma rede pra tudo que for necessário. Essa aproximação de outros coletivos da comunidade é importante para que a gente entende que essa luta não é só nossa. Eu acredito no aquilombamento, em que estarmos mais próximos vai nos levar a alguma coisa. A conjuntura política faz com que a gente se reúna para não morrer”, afirma.

 

O ativista Cícero Sobrinho (24), integrante do coletivo Ibura Mais Cultura, relata sobre a carência da região, principalmente de informação para analisar o contexto social em que se insere a favela. “A partir do momento que conseguimos possibilitar a alguém acessar um tipo de informação que lhe é negada, abrem-se possibilidades de mudar a realidade, porque quem muda a realidade são pessoas, então temos que mudar pessoas para poder mudar as realidades. Na crise a gente tem que se organizar, nós jovens sentimos essa necessidade, esse pulso, e conseguimos ver nos coletivos essa possibilidade”, observa.

Segundo Levi Costa (35), presidente da Associação de Moradores de Três Carneiros Alto e membro da Associação Metropolitana de Hip-Hop, é importante a realização de eventos como o que ocorreu na favela do UR-11. Costa ressalta o caráter de união entre os grupos. “Entendo que a ocupação dos espaços pelas juventudes, intervindo com políticas públicas dentro de um território que realmente é esquecido pelo poder público, que abandona todas as questões sociais, de cidadania e educação é um grande avanço para intervir nesse processo. Acho que está sendo muito bom de ver que um coletivo está buscando o outro para organizar intervenções.”

O encontro foi evento foi realizado por meio da parceria entre Ibura Mais Cultura, Coletivo Periféricas, Espaço Cultural das Marias, Favela LGBTQ+, UR-11 Free Style e Revolta da Periferia. Todos são coletivos que atuam no Ibura e dialogam com a comunidade realizando um trabalho de conscientização acerca da riqueza cultural, respeito à diversidade e luta pelos direitos humanos.