Imprensa e o jornal A Voz da Favela

De 1808 a 2021, da função informativa ao papel social.

jornais sendo impressor _ foto: arquivo pessoal

No dia 01 de junho comemorou -se o Dia da Imprensa. A data foi instituída em 1999, por meio da lei 9.831, durante o governo do presidente Fernando Henrique. Até então, a comemoração se dava em 10 de setembro, dia da primeira publicação do jornal A Gazeta do Rio de Janeiro, em 1808, nas máquinas da Impressão Régia, ou seja, um órgão oficial da Corte Portuguesa, na época.

A mudança ocorreu porque descobriu-se que o Correio Braziliense, produzido pelo jornalista Hipólito José da Costa, feito em Londres, já circulava clandestinamente, sendo apontada a data de 01 de junho de 1808 como a de seu primeiro número impresso.

Desde então, além da função informativa, a imprensa assumiu também um papel social, que a cada dia vem se ampliando e se fortalecendo, tornando-se essencial para a democracia e os direitos dos cidadãos. E nos últimos tempos, também no combate às “fake news”, produzidas em diversos setores da sociedade, onde informações falsas, comumente de viés político e quase sempre geradas primeiramente nas redes sociais, acabam sendo noticiadas como reais.

Por terem um poder viral e apelarem para o emocional do público, se espalham rapidamente, muitas vezes prejudicando uma pessoa ou grupo, como ocorreram nas últimas eleições. Também no episódio recente após a invasão da polícia civil à favela do Jacarezinho e morte de 28 moradores e um policial, quando uma imagem falsa da mãe de uma das vítimas aparecia com fuzil nas mãos.

A imprensa também é responsável por registrar fatos importantes, que muitas vezes se tornam históricos. E, atualmente, não se limita apenas a veículos impressos, radiofônicos ou televisivos, mas está presente em multiplataformas, que veiculam em conjunto imagens, som e escrita.

Revista DaRua _ Crédito: Leonardo Lopes

A Voz da Favela

Avançando nessa celebração, incluímos os veículos de comunicação comunitária que, em sua maioria, registram realidades quase sempre sem visibilidade e espaço na grande mídia. Nesse contexto, encontra-se este jornal, A Voz da Favela, produzido por jornalistas, mas, principalmente, pelos colaboradores das periferias e favelas, que apresentam a visão de dentro para fora do que acontece em seus territórios, sendo voz e estandarte na superação de estigmas negativos sobre os locais onde moram e tendo a oportunidade de trazer à tona notícias que fortalecem as identidades locais.

A Voz da Favela, maior veículo impresso das favelas do país, faz parte da Agência de Notícias das Favelas (ANF), fundada pelo jornalista André Fernandes, em janeiro de 2001, sendo inicialmente criada para atender a demanda da imprensa e da sociedade por informações sobre as comunidades do Rio de Janeiro.

Hoje, a ANF é uma organização social que leva adiante a luta pela democratização da informação da favela para o mundo, tendo como protagonistas seus próprios moradores. A agência, produtora de informação, ampliou sua rede de comunicação, e hoje dispõe também de um portal de notícias, produz conteúdo para as redes sociais (Facebook, Instagram, YouTube e Twitter), edita livros e revistas, atua com produções e filmagens, promove cursos de capacitação, assim como é a única organização da mídia independente no país que tem um Manual de Redação e Estilo, distribuído exclusivamente entre os seus mais de 500 colaboradores.

Para Edson Castro, cocriador da revista “DaRua”, a comunicação comunitária é fundamental na manutenção do saber, visto que tem, dentre muitas outras características, as linguagens devidamente flexibilizadas para o seu local de atuação. “Isso facilita bastante o interesse pela leitura (principalmente do público mais jovem) e muito se deve ao fato de os produtores fazerem parte da realidade que retratam, tendo assim muito mais poder de gerar uma comunicação natural e efetiva”, explica Edson.

“Quando criamos a Agência de Notícias das Favelas éramos muito poucos, hoje a comunicação comunitária é uma potência, cresce a cada dia e se tornou imprescindível. É tão importante para as favelas e periferias quanto saneamento e educação, por exemplo. Porque é isso que pode amplificar todas as demandas dessa população”, afirma André Fernandes, diretor da ANF.

De 1808 a 2021, a imprensa passou por diversas revoluções e apesar das dificuldades encontradas, principalmente na mídia impressa, é fundamental que possa atuar com liberdade, permitindo cada vez mais a diversidade de vozes, buscando a responsabilidade dos governos e líderes, apurando e esclarecendo os fatos que afetam diretamente a população.

Matéria publicada originalmente no jornal A Voz da Favela, edição de Junho 

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