Na última quinta-feira, 24, um incêndio criminoso na ocupação Helena Greco, no bairro Zilah Sposito, em Belo Horizonte, deixou três famílias desabrigadas. Para conter as chamas na comunidade, que não conta com saneamento básico, os moradores precisaram recorrer ao improviso junto aos vizinhos do entorno, que cederam baldes de água e estouraram canos subterrâneos, até a chegada do Corpo de Bombeiros.
Segundo testemunhas, a amiga de uma das moradoras ateou fogo na casa depois de um desentendimento em uma festa da qual participavam, em um sítio próximo da comunidade. Ela foi pega em flagrante e precisou ser retirada do local pela polícia, sob ameaça de linchamento. “Por sorte, não tinha ninguém em casa. Quando me ligaram, vim correndo e encontrei tudo destruído. Não sobrou um documento meu ou dos meus filhos”, conta Marcela Aguiar, 37 anos, que comemorava o aniversário da caçula naquele dia.
Sem condições de voltar para as moradias, que tiveram perda total, as famílias aguardam uma posição da Companhia Urbanizadora e de Habitação de Belo Horizonte (Urbel) na casa de parentes e vizinhos. A reivindicação é para o pagamento do auxílio-aluguel, evitando que elas continuem sendo expostas a situações de risco no contexto da pandemia da Covid-19, em moradias superlotadas e estruturas improvisadas.
As lideranças comunitárias da região que estão dando apoio às famílias, Marlene Matos, 59 anos, e Maria da Conceição dos Santos, 56, afirmam que o Centro de Referência de Assistência Social (Cras) tem auxiliado a garantir proteção às famílias. Nesse sentido, foi solicitado o Avise (Benefício Eventual da Política Pública de Assistência Social de Belo Horizonte), que consiste numa provisão suplementar temporário para as pessoas que vivenciam situações de risco e insegurança social, além de um relatório do caso para a Urbanizadora e de Habitação de Belo Horizonte Urbel, solicitando uma intervenção.
“Antes do fogo, a chuva já havia me castigado”
Depois do incêndio, Marcela Aguiar, 37 anos, conta que os três filhos pequenos, de três, cinco e 13 anos, têm pesadelos constantes e mal conseguem ficar sozinhos. Ela, que não tem parado em busca de doações, diz-se cansada e ainda baqueada com o que aconteceu. Mas não é de hoje que a família, que inclui o marido e um casal de primos que com eles viviam na antiga casa, precisam lidar com os traumas do risco sempre iminente. Há poucos meses, haviam conseguido levantar o estrago decorrente das fortes chuvas do início do ano. “Em janeiro, uma enchente destruiu tudo. Móveis, roupas, documentos, precisei ser tirada no colo de dentro de casa, tamanha era a altura que a água chegou”, afirma.
Naquele mês, Marcela fez a solicitação de uma visita da Urbanizadora e de Habitação de Belo Horizonte (Urbel) e da Defesa Civil, em busca de uma solução para a precariedade da moradia de estrutura de madeirite e localizada em cima do córrego da comunidade, sem tratamento de esgoto. A resposta de técnico que fez a visita, no entanto, era uma previsão do que aconteceria. “Ele me disse que só poderia fazer alguma coisa depois que uma tragédia acontecesse, se o barranco que tinha atrás da minha casa caísse ou algo do tipo”, conta.
O histórico de atendimento da Urbel, no entanto, restringe-se a casos que se enquadram no que nomeiam como política habitacional, relacionada a déficits quantitativo e qualitativos, como riscos geológicos, desapropriação para construção de obras, dentre outros. No entanto, as famílias relatam que já haviam sido vítimas de contingências como as citadas, e a estrutura das moradias encontravam-se em inegável risco. Apesar de criminoso, ao que tudo indica, o incêndio poderia ter causado menos estragos caso o poder público tivesse, efetivamente, cumprido a sua função.
A Assessoria de Comunicação da Companhia Urbanizadora e de Habitação de Belo Horizonte (Urbel), não respondeu sobre o encaminhamento das solicitações das famílias, corroboradas pelo relatório enviado pelo Centro de Assistência Social (Cras) do bairro Zilah Spósito.
As famílias estão recebendo doações de roupas, brinquedos, móveis, eletrodomésticos e dinheiro. Para mais informações, entre em contato com a Marcela pelo telefone (31) 98834-4059.
Enquanto resposta da Companhia Urbanizadora e de Habitação de Belo Horizonte (Urbel) não chega, famílias continuam dependendo de doações e da solidariedade de parentes e vizinhos.
Esta matéria foi produzida com apoio do Fundo de Auxílio Emergencial ao Jornalismo do Google News Initiative