Karina Carvalho, jovem indígena da etnia Tumbalalá, foi empossada como deputada jovem baiana na Assembleia Legislativa da Bahia -ALBA. Karina participou do Programa “Deputado Jovem Baiano”, realizado pela Secretaria de Educação da Bahia (SEC) em parceria com a ALBA, para promover a aproximação de estudantes dos 27 territórios de identidades do estado da Bahia com o Poder Legislativo e a vivência parlamentar.
Ela mora na comunidade de Porto da Vila, no Território Indígena Tumbalalá. A aldeia localiza-se ao norte do estado da Bahia, entre os municípios de Curaçá e Abaré, na divisa com Pernambuco e às margens do rio São Francisco. Como referência, tem-se o pequeno povoado de Pambú, a ilha da Assunção (TI Truká) e a cidade de Cabrobó (PE).
O programa promoveu a simulação de como funciona a rotina de um parlamentar, suas atividades e atribuições, e o funcionamento dos trabalhos internos para elaboração e votação de uma lei dentro da Assembleia Legislativa da Bahia (Alba), com o intuito de capacitar e empoderar esses estudantes.
Foram selecionados 63 estudantes que vivenciaram durante uma semana os trabalhos legislativos da ALBA e apresentaram um projeto de lei e Karina se candidatou a uma das quatro vagas no segmento estudantes indígenas. Os outros segmentos selecionados foram estudantes: quilombolas, da rede pública, da rede privada, com deficiência e de escolas da família agrária.
O Projeto de Lei (PL) apresentado por ela foi o “Incentivo de Energia Renovável em Aldeias Indígenas da Bahia” e prevê implantação dos sistemas de energia renovável nas aldeias indígenas da Bahia, para garantir o acesso dessas comunidades à energia limpa e sustentável, respeitando suas especificidades culturais e territoriais.
Em entrevista para Fabi Kiriri (@fabi_kiriri), Karina comentou sobre seu projeto:
“Neste momento estamos tecendo não apenas o nosso futuro, mas o futuro de todos. Estamos redefinindo o que significa progredir, construindo um caminho que respeita os passos que já foram dados por nossos ancestrais. Esse projeto de lei é uma testemunha de que podemos prosperar enquanto honramos a terra sob nossos pés. Essa iniciativa para nós, é uma visão, uma resposta às nossas preces e uma promessa de que podemos andar de mãos dadas com a modernidade sem esquecer quem somos. Esta proposta não é apenas sobre painéis solares é sobre devolver a mãe terra o que dela recebemos.”
Ela destacou a necessidade de garantir a representatividade da juventude na ocupação dos espaços de poder, na elaboração de políticas públicas com a presença de segmentos sem visibilidade como quilombolas, indígenas e pessoas com deficiência. “Mulheres jovens indígenas vamos com força e determinação ocupar esses espaços de políticas públicas, só dessa maneira garantimos que cada vez mais mulheres permaneçam ocupando esses espaços parlamentares”, conclamou.
Luta por reconhecimento
Os Tumbalalá foram reconhecidos pela Fundação Nacional dos Povos Indígenas – Funai em 2001 no contexto das comunidades indígenas assistidas pelo Estado brasileiro. Seus habitantes ocupam uma área onde atuaram missões indígenas e de colonização portuguesa
Esse reconhecimento é fruto de um intenso movimento em meados de 1998 com projetos de articulação coletiva que resgatou a história, destino e origem comuns para as pessoas que formam hoje uma comunidade ainda sem território demarcado. Habitando o sertão de Pambú, uma área na margem baiana do sub-médio São Francisco ocupada no passado por várias missões indígenas e alvo de criação extensiva de gado bovino durante os séculos XVII, XVIII e XIX, os Tumbalalá estão historicamente ligados a uma extensa rede indígena de comunicação interétnica que agrega alguns grupos do domínio etnográfico dos índios do Nordeste brasileiro.
Crédito da Arte: @mariaxavier676