Há quase um mês a Aldeia Araponga, localizada em Paraty, litoral sul do Rio de Janeiro, indígenas da etnia Guarani Mbyá iniciaram a ampliação da estrada, com o objetivo de facilitar a passagem de visitantes e moradores da aldeia, além de melhorar o transporte de alimentos, material de limpeza e o atendimento de saúde à população da região. Segundo Agostinho da Silva, cacique da aldeia com mais de 100 anos, a estrada é um esforço coletivo para a sobrevivência dos moradores.
Durante quase 50 anos vivendo na região, poucas vezes viu o poder público apoiando ou apresentando aos indígenas de Araponga políticas públicas que garantem o mínimo de dignidade à vida e a cultura da etnia Guarani Mbyá na região. “Não temos apoio da FUNAI, nem ICMBio ou da própria prefeitura de Paraty. Não pode derrubar a mata pra abrir a estrada ou pra plantação, mas eles não garantem cestas básicas ou qualquer solução pra gente sobreviver.” Uma das grandes dificuldades sobre a abertura da estrada é o medo de órgãos públicos impedirem a iniciativa, já que a estrada se localiza dentro do Parque Nacional da Serra da Bocaina, localizada entre Rio de Janeiro e São Paulo e apresenta grande diversidade de fauna e flora, em uma área aproximada de 134 mil hectares.
Com dificuldades em conseguir apoio institucional, o cacique Agostinho decidiu por fazer uma chamada de voluntários no início do mês passado, para agilizar o desejo de ver a estrada concluída. Na aldeia há somente a família do cacique, que conta em sua maior parte com mulheres e crianças, em um total de 25 pessoas. “São muitas dificuldades sem a estrada, carregar alimentos, material de limpeza ou botijão de gás, transportar alguma pessoa quando precisa de atendimento de saúde”, comenta Mauro Adriano, 32, indígena da etnia Araweté e ativista, que já trabalha há 5 anos com a Aldeia Araponga.
“A distância entre a aldeia e a cidade mais próxima, Patrimônio, fica há 10 km, e entre a aldeia e Paraty fica há quase 30 km de distância, o que dificulta bastante quando alguma pessoa precisa de atendimento médico com urgência.” De acordo com Mauro os riscos de saúde são relacionados com animais predadores como a onça, além de animais venenosos como cobras, aranhas e escorpiões. “E isso é um perigo para crianças e pessoas mais velhas e até para as pessoas mais jovens que são mais resistentes fisicamente.”
Dentro da aldeia existe um posto de saúde construído no ano de 2005, que até o ano de 2019 nunca houve nenhum tipo de reforma. “Foi necessário que os próprios moradores se reunissem para realizar uma manutenção do teto do posto depois de uma forte chuva que ocorreu no mesmo ano”, comenta Mauro Adriano. No posto há atendimento quinzenal de quatro funcionários de saúde e um carro fornecido pela Secretaria Especial da Saúde Indígena (SESAI), no entanto, Vilmar, 40, indígena e motorista da SESAI, nos disse que devido aos poucos recursos e o tempo que levam para caminhar o trajeto da entrada da estrada inacabada até a aldeia, a função dos funcionários torna-se um paleativo, invés de ser um atendimento completo em relação ao contexto da região.
“Nós estamos ampliando essa estrada para a melhoria da nossa aldeia. Com ela inacabada nós ainda precisamos caminhar uma trilha de 1 km, que dá mais ou menos trinta minutos, dependendo do que estamos transportando. Os agentes de saúde que vêm prestar atendimento não conseguem realizar um atendimento eficiente pela falta de recursos, porque é difícil o transporte e não dá pra transportar tudo com uma estrada que não tem fácil acesso para carros.”
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