Mais um ano igual aos demais na segurança pública do Estado. Sinceramente não gostaria de escrever sobre este assunto, pois defini que o ano de 2015 para mim será reservado à educação, cultura e social com a inauguração do Centro Social Quilombo Urbano Jacaré.
Acontece que no dia 17 de dezembro de 2014, o Conselho Estadual de Direitos Humanos o qual faço parte, se reuniu ordinariamente para deliberações de rotina. Nesta reunião estiveram presentes mães de vítimas da violência policial. Então uma das mães começou a narrar o que havia acontecido com seu filho. Todos atentos a narrativa. Parecia cena de teatro ou de cinema de tão perfeita que foi a narração. Ninguém conseguia disfarçar as lágrimas que insistiam cair. Não pude ficar até o fim do ato. Não aguentei mesmo sabendo que era uma obrigação minha permanecer para os desfechos e encaminhamentos. A mãe mesmo em prantos discorria desde a tortura até a execução do seu filho. Um outro filme começou a passar pela minha cabeça. O palco, a favela do Jacarezinho. No roteiro, os mesmos personagens, de um lado os pobres negros favelados. Do outro, os famigerados policiais seus dedos nervosos e suas bocas sedentas de sangue. No meio os dráculas da segurança pública. O início desta fita foi a partir dos anos 80, seu auge 98, quando o escolhido para protagonista do enredo foi o nada menos que General Cerqueira o mesmo “galã” que protagonizou a morte do Capitão Lamarca no interior da Bahia. Como secretário de segurança pública instituiu prêmios de bravura e pecúnia isto simplesmente serviu de incentivo para que os policiais prendessem deliberadamente qualquer um e o pior, matassem também. Incalculável foi o número de mortes em supostos confrontos, justificados nos famosos autos de resistência. A infeliz insegurança pública para as favelas em 2015, é pelo fato de que o modus operandi desses facínoras não modificou. o que significa dizer que a simples dança das cadeiras é o mesmo que trocar alhos por bugalhos. Mudança real seria reformulação das policias e a desmilitarização. Também tirar do palco principal da sociedade a segurança pública e seu secretário, substituindo-os pela secretaria de educação e cultura. Levar com seriedade o esporte para as favelas potencializando os jovens e adolescentes como é feito pelos países desenvolvidos e cheios de medalhas. Tirar definitivamente as armas das favelas e não levá-las para lá como vem acontecendo por décadas aos olhos de nós favelados cansados de observar tal prática. Práticas estas já tão denunciadas, mas sem os efeitos devidos. Por fim, descriminalizar as drogas, no mínimo, seguir os passos do nosso país vizinho o Uruguai que liberou a maconha.
Chorar não adianta, temos feito isso ao longo de décadas. Por tal motivo é que eu me retirei da reunião. Por que o filme que vem a tona é muito triste carregado de sangue amigo. Um mar vermelho onde não é possível mergulhar para salvar ninguém, pois lá, já estão todos mortos. Isto tudo sem falar no mercadinho de drogas das favelas que os protagonistas da segurança pública insistem em chamar de tráfico de drogas e seus traficantes “ignorando” os cartéis da Bolívia, Paraguai e Colômbia. Triste porque me faz lembrar meu irmão morto com vários tiros na cabeça e colocado em um caminhão triturador de lixo da Comlurb, também da minha prima que teve sua cabeça decepada que serviu de bola para os seus algozes nos becos na favela. Uma polícia que teve seu comandante afastado por suspeita em falcatruas, outro preso por ter mandado matar uma juíza, outro por formar quadrilha na zona oeste do Rio. Acho que já chega de maus exemplos na segurança pública, e justificar o título deste texto. Mesmo assim, feliz 2015.
Rumba Gabriel