O momento de crise no nosso país, nas mais variadas instâncias, é algo que nos faz temer a cada nova notícia que pipoca nos meios de comunicação. A situação penosa em que se encontra o Rio de Janeiro nos faz sentir mais ainda sobressaltados, já que moramos na cidade da beleza e do caos. Recentemente, o Instituto Pretos Novos (IPN), localizado no bairro da Gamboa, região portuária da cidade do Rio, lançou a campanha: IPN Resiste! O centro cultural busca alternativas para não fechar as portas depois de perder o apoio que da Prefeitura tinha até o término da gestão passada.
A história do IPN – que tem esse nome devido à chegada dos escravos, vindos do continente africano, ao Rio pela região do porto – começou há mais de dez anos, quando um sítio arqueológico foi descoberto num casarão familiar da Gamboa. O fato trouxe à tona uma história até então desconhecida para a população, inclusive no meio acadêmico: havia um cemitério naquele lugar. Lá foram encontradas ossadas de milhares de homens e mulheres negros, ali abandonados a própria sorte, vítimas de doenças e maus tratos decorrentes da travessia do Oceano Atlântico. Pela análise feita pelos especialistas, chegou-se ao desdém com que eram tratadas as vidas dessas milhares de pessoas que lá eram enterradas logo que chegavam do Brasil. Uma evidência desse descaso é o fato de as ossadas terem sido encontradas incompletas.
Depois de transformar este lugar num museu memorial vivo, o Instituto Pretos Novos abriu as portas ao público para que todos conhecessem esse e outros capítulos da nossa história e refletissem sobre o nosso passado marcado por dor, racismo e resistência. Assim, o mínimo que nós e, inclusive, a Prefeitura do Rio poderia fazer é resguardar a importância deste lugar e do trabalho que ali é desenvolvido.
Meu contato com o Instituto Pretos Novos se deu tempos atrás, quando eu ainda estava na graduação em História, e permanece até hoje. Ali descobri os cursos ofertados de maneira gratuita para quem se interessasse pela temática africana e afrobrasileira, indígena, de gênero e temas relacionados ao ensino, além de oferecer um curso de especialização em nível de pós-graduação. Estar neste museu nos impõe a todo o tempo a obrigação quase natural de refletir sobre aquele lugar e aquelas histórias que estão no nosso passado, mas que ainda reverberam no presente.
Porém, a situação do IPN hoje é desesperadora. Fala-se, inclusive, em fechá-lo devido à ausência de apoio financeiro da Prefeitura – aquela que diz que vai cuidar das pessoas – para mantê-lo de pé. O Instituto foi reconhecido pela Unesco como Patrimônio da Humanidade. Moradores da região e do resto da cidade reconhecem e valorizam a importância da existência deste lugar. O que falta para que os nossos governantes reconheçam e tomem as devidas atitudes? Não podemos permitir que mais um lugar de relevância cultural se feche. Gritemos: IPN resiste!