E lá vamos nós para mais uma “intervenção militar” no estado do Rio de Janeiro. Nos meus 50 anos, lembro muito bem dos anos de chumbo da ditadura. Nunca imaginei que voltaríamos a viver esse clima sombrio. Porque o que vai acontecer no Rio eu sei de cor. Mais repressão, mais agressão aos direitos humanos e quem mais vai sofrer com isso, mais uma vez é o povo preto favelado e pobre.
Aliás, oficialmente a ditadura acabou em 1985 para os moradores do asfalto, porque nas favelas ela nunca deixou de existir. Desaparecimentos, assassinatos, prisões ilegais, pessoas torturadas dentro de suas casas na frente de familiares… Isso ainda é prática normal do Estado nas favelas e periferias de todo o país.
Mas agora ela vem com uma novidade. Ela vem com aprovação da nefasta e cruel opinião pública brasileira. Inclusive com a adesão de muitos moradores de favelas.
A partir dessa semana o estado do Rio de Janeiro entra definitivamente em Estado de Sítio. Moradores de comunidades estão sendo fotografados por celulares pessoais de soldados das Forças Armadas. No Complexo da Maré, a PM inutilizou várias piscinas da associação de moradores alegando serem do tráfico. E tudo isso acontecendo com a leniência e aprovação das chamadas pessoas de bem.
Quando leio que um general do exército será secretário de segurança do Estado do Rio de Janeiro, chego a tremer de apreensão. E saber que eles querem agir com carta branca invadindo casas sem mandado judicial e com autorização para matar e não serem julgados por isso, minha apreensão aumenta ainda mais. Mesmo sendo um negro que não mora em favela, já sei que sou um possível alvo das forças de segurança.
Na última ocupação no Complexo da Maré soldados do exército mataram, mutilaram e aleijaram moradores inocentes. Lembro do caso do filho de uma amiga que foi alvejado por um soldado do exército e que ficou tetraplégico. Um jovem de 20 e poucos anos que tinha o sonho de ser ator, mas que foi interrompido pela brutalidade do Estado. A família não recebe sequer um pedido de desculpas oficial por nenhum órgão governamental.
E o caso dos rapazes do Morro da Providência que foram sequestrados por uma patrulha do exército e entregues para traficantes da facção rival no Morro do São Carlos e que foram assassinados? Lembram disso?
Por essas e outras é que reafirmo veementemente.
INTERVENÇÃO NÃO É SOLUÇÃO!
