Moradores da Favela do Jacarezinho fecharam a Avenida Dom Helder Câmara na noite desta terça-feira, 15, em protesto contra as operações policiais que acontecem há cinco dias na comunidade. A Polícia Civil reprimiu a manifestação, que não teve registro de incidentes de vandalismo, com bombas de gás lacrimogêneo e de efeito moral.
Cerca de 150 mulheres, crianças e jovens ocuparam a entrada da comunidade na antiga Avenida Suburbana por volta das 20h. Eles exigiam o fim da violência no Jacarezinho, que é alvo de ações da Polícia Civil desde a morte do agente da Coordenadoria de Recursos Especiais (Core) Bruno Guimarães Buhler na última sexta-feira. Uma grande faixa branca pedia paz e interditou o trânsito nos dois sentidos de uma das principais vias da Zona Norte do Rio. A mobilização partiu dos próprios moradores através de grupos de WhatsApp.
A grande quantidade de mulheres e crianças no protesto não impediu, porém, a repressão policial. Os manifestantes ocuparam a esquina das avenidas dos Democráticos e Dom Helder Câmara e também a frente dos portões da Cidade da Polícia, gritando palavras de ordem e pedindo paz. Sob o olhar de policiais militares que faziam a guarda da entrada da edificação, bombas de gás lacrimogêneo e de efeito moral foram atiradas de dentro da sede da Cidade da Polícia, que fica a menos de cinco metros da comunidade. “Tacaram bomba na gente. Nosso protesto é pacífico. Nós só queremos uma solução dos órgãos governamentais, competentes ou não”, explica Fabíola Alves.
Após a tentativa de dispersão por parte da Polícia Civil, o protesto seguiu pelas ruas do Jacarezinho, recebendo apoio de outros moradores.
Pânico, mortes e prejuízos
Os cinco dias de operação na Favela do Jacarezinho têm causado pânico, mortes e prejuízos. Só nesta terça-feira, duas pessoas foram baleadas durante mais uma incursão da polícia. Uma senhora foi atingida por um tiro e o feirante Tião da Fruta, muito conhecido na região, foi morto na localidade do 15 após ser alvejado no peito. A tragédia causou comoção nas redes sociais. “Nao da (sic) pra acreditar, muito triste”, afirmou uma moradora em um grupo do Facebook da comunidade.
Quem vive na região não consegue se acostumar à rotina de medo que tem deixado as crianças sem aulas e o comércio parcialmente fechado há dias. “Não tem nem bandido no meio das ruas e eles estão atirando. Nossas crianças não podem ir pra escola. A minha sobrinha, toda vez que dá tiro, pega algodão e bota no ouvido”, conta Rafaela Siciliano.