A Policia Civil afirma ter recebido denúncias de que traficantes locais estariam aliciando crianças e adolescentes para a prática de ações criminosas. No entanto, nenhum corpo ainda foi identificado, nem registrado no IML ou apresentado seu envolvimento com a operação policial.
O advogado criminalista e cofundador do Instituto de Defesa da População Negra, Joel Santana, esteve na comunidade e entrou em algumas casas, todas com a mesma dinâmica: arrombadas, cobertas por marcas e poças de sangue, e muitos tiros. Nitidamente abalado, Joel declarou:
“É cruel, desanimador, uma situação de descompromisso e descontrole total, nos fazendo sentirmos impotentes. Hoje 25 pessoas foram mortas aqui. E aí? Amanhã não haverá mais tráfico de drogas? Isso resolveu alguma coisa? Definitivamente, de tudo o que li, estudei e escuto, posso afirmar que isso que acontece aqui não é Democracia, estamos vivendo um verdadeiro cenário de guerra!”
Moradoras da comunidade protestaram em um vídeo gravado pelo advogado e compartilhado em seu Twitter, gritando principalmente que a operação foi feita por assassinos. Uma delas conta que teve o seu filho executado durante o confronto, e afirma que quando foi perguntar por informações ao policial, o mesmo apontou um fuzil em sua cara dizendo que ela tinha que morrer.
Sergio, morador do Jacarezinho e líder de diversos projetos sociais na comunidade, declarou ter visto uma verdadeira carnificina acontecer, e que a grande maioria das vítima fatais são menores de 20 anos.
Coletiva de Imprensa
Ainda na tarde de ontem aconteceu a primeira coletiva de imprensa da Defensoria Pública. Participaram do encontro representantes da Defensoria Pública, de instituições parceiras, e jornalistas. A defensora pública do Rio de Janeiro e mestre em Direitos Humanos e Liberdades Públicas, Maria Julia Miranda, relatou as visitas em casas da comunidade que esteve. O ilustrado por ela foram imagens trágicas, com mães procurando seus filhos nas favelas, visto que as pessoas foram tiradas mortas de casa, o que configura desfazimento de cena de crime.
Guilherme Pimentel, ouvidor geral da Defensoria, também esteve no local após receber muitas denúncias, e declarou cenas chocantes, paredes e comércios cravejados de balas, muitas casas e automóveis destruídos. Segundo ele, havia muito sangue nas casas e nas ruas das favelas, objetos danificados e pessoas completamente traumatizadas com a situação.
O ouvidor reiterou que é preciso investigar o desfazimento de cena, pois haviam muitas marcas de corpos que foram carregados pelo chão, e afirmou que tem sido uma rotina diária atender aos pedidos de socorro de comunidades. “Hoje foi um caso extremo, é urgente e importante estudar com vigor o que houve no local”, completou Guilherme.
Entrevista coletiva
Durante a noite, representantes da Policia Civil deram uma entrevista coletiva onde declararam não ter havido execução, sendo a única morte configurada como execução, a do policial atingido André Farias, pois segundo eles, todos os outros eram bandidos.
O delegado responsável pela operação, Rodrigo Oliveira, disse ainda que não considera que houve erros ou excessos na operação, e que esta já estava sendo planejada a cerca de 10 meses. Rodrigo também atacou defensores de Direitos Humanos e criticou o que ele chama de “ativismo judicial”, que segundo ele vai contra o trabalho policial.
Daniel Lozoya, defensor público (RJ) do Núcleo de Defesa dos Direitos Humanos, finalizou a sessão dizendo mais uma vez que é preciso entender qual o critério da Operação Policial, pois uma ação que resulta em pelo menos 25 mortos até o momento, não pode ser declarada como eficiente.
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