Infelizmente, quando a PM entrou atirando, no Morro da Baiana, no Complexo do Alemão, lá  na década de 80, e matou meu irmão com um tiro no pescoço, não existiam organismos de notícias independentes, sem rabo preso, nem com políticos, com governo ou com os grandes grupos de mídia.

Caso houvesse naquela época, seria divulgada a violência diária da PM, contra o povo pobre e favelado em mais uma favela.

De lá para cá, muita coisa mudou. Houve a redemocratização, uma constituição novinha em folha, aumentando os direitos. (?)

Mas a polícia continua entrando atirando nas favelas. Em qualquer lugar do mundo, a polícia é a última instituição do Estado a entrar nas áreas mais pobres das cidades. Aqui no Brasil é a única. Trabalha-se com as consequências, nunca com as causas. É como tratar de um câncer no cérebro com aspirina, para aliviar a dor, enquanto o câncer continua a crescer.

            Estão entrando nas favelas usando táticas de guerra, como terroristas, todos os dias.  Mata-se um traficante e aparecem outros dois para substituí-lo. Ao mesmo tempo, pessoas inocentes estão sendo mortas, suspeitos estão sendo mortos e nada muda, pois entram na conta do “auto de resistência”, no qual a vítima acaba virando o culpado por morrer. Com a certeza da impunidade, aumenta a corrupção, a brutalidade.

Dados oficiais do governo do Rio, divulgados no início do ano, mostravam que o número de mortes em ações policiais continuava elevado. Entre 2007 e 2010, 4.370 pessoas morreram em confronto com agentes da lei. A média no período foi de três autos de resistência registrados por dia. Em 2007, primeiro ano de administração do governador Sérgio Cabral (PMDB), foi anotado o maior número de mortes em confrontos com a polícia desde o início da série história registrada pelo Instituto de Segurança Pública do Rio: 1.330.

            Essa situação a meu ver é resquícios de uma política de formação da época da ditadura, na qual a interpretação da Lei de Segurança nacional permitia decidir o que iria ou não ser publicizado cartorialmente.

O presente sistema de segurança não atinge a raiz do problema, não se preocupa em criminalizar quem verdadeiramente comanda o tráfico, que por sinal, não está na favela, nas ruas, ou dando bobeira por aí. Criminaliza os pequenos do tráfico: mata um aviãozinho hoje, amanhã tem outro no lugar sujeito ao mesmo. Assim, essa guerra civil é eterna.

A Polícia com autonomia sem ser corrupta e a criminalização da pobreza continuam, enquanto a raiz da questão não for tratada, assim como se a preocupação com outras questões, como o desenvolvimento social de quem vive do tráfico não acontecer.

Mas algo de novo está acontecendo. Com o advento das novas tecnologias de informação, das Mídias Alternativas, as comunidades mais pobres estão tendo voz, para protestar, divulgar, mesmo que localmente. E como elas fazem isso, quando a “grande mídia” lhes fecha as porta?

Através do  jornalismo alternativo, o qual é a prática jornalística feita por veículos e instituições, que estão  fora do escopo da chamada grande mídia (aquela também definida por alguns setores como “mídia vinculada à indústria cultural”). Na maioria das vezes o jornalismo alternativo existe para cobrir fatos e informações ignoradas ou, principalmente negligenciadas pela assim chamada “velhas mídias”.

Como ela faz isso? Utilizando outros canais e suportes para veicular sua produção, como a mídia alternativa e a mídia independente.

No Brasil, pode-se listar exemplos de jornalismo alternativo desde a época do  Império, momento no qual a imprensa alternativa floresceu, especialmente no Primeiro Reinado, com sua produção de um vasto número de pasquins, panfletos e folhas avulsas, os quais defendiam interesses dispersos e imediatos. À época, o tom era mais a propagandístico e  ideológico ou até mesmo político do que o jornalismo. Tais jornais eram mais frequentes em períodos de crise, como a pressão para a abdicação de D. Pedro I (1831), a maioridade de D. Pedro II (1840) e a proclamação da República(1889).

Outro momento que também viu nascer uma nova leva de jornais da imprensa alternativa foi na ditadura de Getúlio Vargas , com impresso como : O Homem do Povo, de Oswald de Andrade e Pagu. O “Partidão” controlava  parte dessa mídia alternativa nessa época, ou era feita por simpatizantes socialistas.

Durante o regime militar de1964, amídia alternativa no Brasil floresceu de forma impressionante, devido á censura sistemática à imprensa , a qual atacava até a mídia corporativa, apoiadora do golpe. Tal pressão gerava um forte demanda por informação crítica ou contrária aos interesses oficiais.

São desse período jornais como: Opinião, Movimento, O Sol, Jornal da República, a revista Cadernos do Terceiro Mundo e muitos outros. Eles  tentaram levar informações, análises e comentários dissidentes para o público, mas devido a várias pressões, em sua maioria tiveram vida curta. Nesse momento do país, também brotaram várias rádios piratas e as comunitárias, facilitados pela disseminação da tecnologia de transmissores.

Nos dia de hoje, com as facilidades dos meios digitais de comunicação, há bem mais jornais ou veículos com conteúdo alternativo ou dito de esquerda. Dentre outros, pode-se elencar alguns, como os principais veículos dedicados ao tema: Brasil de Fato, Caros Amigos, Fórum,Jornal A Nova Democracia, ,Correio da Cidadania, além dos já extintos Jornal da Cidadania, Opinião e Jornal da República.

  Há também a seção brasileira do Centro de Mídia Independente, que utiliza um portal da web e serviços de rádio digital para divulgar notícias e artigos. Também destaca-se o Observatório da Imprensa, portal da internet e programa de rádio e televisão, dedicado à crítica da grande mídia brasileira.

A Agência de Notícias das Favelas (ANF) é também um importante marco nesse processo, de crescimento de organismos de notícias independentes, sem rabo preso, nem com políticos, com governo ou com os grandes grupos de mídia,  pois, temos como nosso  principal objetivo a  “democratização da informação de modo geral, não apenas veiculando notícias das favelas para o mundo, mas sobretudo estimulando a integração e a troca de informações entre as favelas, sempre com a finalidade de melhorar, por meio da formação de uma ampla frente popular, a qualidade de vida do povo, pois acreditamos que um mundo melhor é possível”.

Salve a liberdade de informação e expressão. Salve a luta contra a opressão e a violência!

Maximiano Laureano da Silva

Editor Rio de Janeiro da Agência de Notícias das Favelas