Por Igor Caldas
Tava demorando… Até as manifestações desta semana contra a PEC 241, um número expressivo de pessoas foi às ruas do Rio munidos de bandeiras partidárias e faixas contrárias ao governo ainda interino de Michel Temer, mas até então não houvera embate com a polícia neste tipo de manifestação. Ao contrário do cenário paulistano, que contou com dias seguidos de “porradaria”, a coisa por aqui parecia até bem comportada durante os atos contrários à efetivação do golpe.
Mas algo mudou a partir da última segunda-feira (17), quando o nostálgico cheiro de gás lacrimogênio misturado ao vinagre voltou a aparecer nas ruas do Centro. A manifestação contra a PEC 241 foi marcada pelas redes sociais na praça da Cinelândia. A chamada “PEC do Fim do Mundo” é a proposta de emenda constitucional que estabelece um teto para os gastos públicos por até 20 anos, prejudicando mais ainda a saúde e educação, que já estão em estado de desgraça no Brasil inteiro.
Da concentração em frente à Câmara dos Vereadores na Cinelândia, os manifestantes se mobilizaram para protestar em frente ao prédio da Petrobras e BNDES, mas houve confronto na Avenida Chile. Não dava pra entender nada. Ninguém conseguia diferenciar o que eram as explosões das bombas de gás lacrimogêneo da polícia e os rojões que eram atirados em direção à tropa.
A correria foi geral, e a PM conseguiu fazer com que os manifestantes voltassem à praça da Cinelândia. Depois disso, ninguém mais ficou quietinho. Pessoas mascaradas começaram a “decorar” as paredes da Câmara Municipal com sprays de tinta. Sob flashes, rojões e fogos de artifício, lia-se “Voltamos” acima de um dos portões de entrada do prédio.
Logo, alguém gritou: “O choque tá chegando, galera!”. Um contingente de mais de 50 policiais armados e protegidos com armaduras pretas chegou na correria e atirou bombas de gás. A confusão fez com que algumas pessoas recuassem em direção ao tradicional restaurante Amarelinho da Cinelândia, onde clientes estava jantando. A PM invadiu o restaurante e os clientes, indignados, responderam arremessando cadeiras, mesas e o que estivesse ao alcance da mão.
Enquanto isso, na rua Alcindo Guanabara, um estudante levava cacetada na cabeça até cair sangrando no chão. Ele precisou ser atendido por voluntários da Cruz Vermelha. Uma poça de sangue marcava o chão do beco entre a Câmara e o Amarelinho.
Manifestantes e clientes do bar também discutiam com a PM sobre o caso de uma ambulante detida por suposto desacato durante a confusão. Ela estava com sua filha vendendo cerveja na praça Cinelândia e, abalada com a situação, tentou argumentar com a polícia e acabou no camburão. Não houve conversa. Os policiais respondiam gritando ou com sorrisos irônicos. Ao todo, quatro pessoas foram detidas.
Grande contingente de policiais em protesto de estudantes
No dia seguinte (18), os estudantes secundaristas também realizaram um protesto no Centro do Rio contra a PEC do Fim do Mundo. A concentração do ato foi na Candelária e o cenário não era nada amistoso: os poucos estudantes que se reuniam na praça com faixas e gritos de guerra estavam cercados por dois micro-ônibus e duas viaturas da PM. Vieram preparados para a guerra. Os policiais – em grande parte, os mesmos do dia anterior – enquavam a molecada para uma revista geral. Apesar disso, o protesto seguiu tranquilo até a Central do Brasil.
Dia 24 de outubro é o segundo turno de votação da PEC 241 na Câmara dos Deputados, em Brasília. Neste dia, a rua vai estar cheia.
É bom levar vinagre.